Segundo autora do vídeo, mãe do menino disse que ele só estava chamando o jogador de um animal
Foto: José Jordan/AFP |
— O que mais me incomodou foi uma criança ao lado, duas cadeiras ao lado, chamando ele de mono o tempo todo. Até tentei interferir, falei com a criança, falei com a mãe da criança, disse que o que eles estavam fazendo não era correto, que eles não podiam ficar chamando o Vinicius de mono, que isso era racismo. E acho que é tão recorrente, tão normal pra eles, que a mãe a criança falou que não era ofensa, que ele só estava chamando o Vini de um animal. Eu falei que o Vini não era um animal, que eles não podiam fazer isso e eles continuaram chamando ele de mono o tempo todo — disse Ana em entrevista a ESPN.
Anna então resolveu gravar. Ao perceber que estava sendo filmada, a mãe da criança deu um tapa no celular. Após a agressão, alguns torcedores do Valencia tentaram pegar o telefone e a polícia foi chamada:
— Eles vieram até mim, perguntaram o que estava acontecendo, falei que eles estavam sendo racistas, chamaram o Vini de mono. Eu acho que eles sabiam que os outros torcedores estavam fazendo era errado e pediram para eu me comportar. Falaram que era o ambiente do estádio e que isso era normal e era para eu me comportar. Se eu me comportasse eu podia continuar ali — relembrou.
A brasileira também disse que se sentiu ameaçada. Anna ficou com medo de que torcedores a perseguissem para pegar o celular com o vídeo.
— Quando sai do jogo eu chorei muito e me senti muito mal. Eu estava com muito medo porque pensei que eles podiam vir atrás de mim para pegar o celular. É um sentimento de impotência muito grande — contou.
Ainda de acordo com a entrevista que Anna deu a ESPN, os gritos racistas se intensificaram logo após o jogador brasileiro fazer o segundo gol do Real Madrid na partida. Vini comemorou com a mão levantada e o punho cerrado. O gesto é conhecido como antirracista.
— Todo mundo achava que eu era a errada da situação. Todo mundo achava que ofender o Vini era o correto. Eu me senti ameaçada e com bastante medo. Chegaram a me tocar, algum homem. E o tempo todo falaram que era pra eu sair do estádio — relatou.
Cartazes com nariz de Pinóquio
O reencontro do atacante Vinícius Junior com torcedores do Valencia no estádio Mestalla aconteceu no fim da tarde deste sábado, em partida válida pelo Campeonato Espanhol. A chegada do ônibus do Real Madrid, time pelo qual atua o jogador brasileiro, à arena foi tranquila, conforme informou a imprensa espanhola. No entanto, do lado de fora, imagens de cartazes com o rosto do atleta comparado ao Pinóquio foram compartilhados nas redes sociais.
A preocupação sobre como seria a interação com Vini Jr. se deu por conta do atleta ter sido alvo de ataques racistas por torcedores do Valencia neste mesmo estádio, nove meses atrás. Ele foi chamado de "mono" na ocasião. O jogador é tratado como "mentiroso" por parte da torcida do Valencia devido ao episódio, sob o argumento de que aquele teria sido um ato isolado, pelo qual os racistas já foram identificados e banidos pelo clube.
Uma torcida organizada do Valencia chegou a criar uma música no ritmo da canção infantil "Pinóquio". E esse mesmo personagem — com o qual Vini é comparado pelos valacentistas — é o que chegou a ilustrar cartazes neste sábado: no entorno de Mestalla, torcedores se reuniram e fizeram um protesto contra o presidente do Valencia, Peter Lim, e circula nas redes sociais a imagem de um dos cartazes com o rosto do jogador (e um nariz crescendo). "Pinóchius (junção de Pinocho com Vinicius), eu não ligo", dizia a frase estampada na peça.
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