Um mês após o ex-presidente Jair Bolsonaro lotar a Avenida Paulista, partidos e movimentos de esquerda realizaram, neste sábado (23), atos pró-democracia em pelo menos 22 cidades do país e também em Lisboa. Apesar de os organizadores terem vetado o mote “Bolsonaro na cadeia”, a orientação não foi respeitada pela militância.
Segundo o organizador do ato em São Paulo, Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares, estão na pauta oficial da manifestação as palavras de ordem “Ditadura nunca mais” e “Sem anistia”, mas o bordão “Bolsonaro na cadeia” não é estimulado pela organização oficial do protesto e foi retirado da pauta oficial. As informações são do jornal O GLOBO.
“Isso poderia levar a interpretação de que nós estamos defendendo a prisão do Bolsonaro antes do devido processo legal e sem amplo direito à defesa”, disse o líder comunitário. Mas obviamente que não resta dúvida para nós de que há provas robustas e incontestes do envolvimento dele nesse processo da tentativa de golpe.
Apesar disso, em São Paulo, um carro de som de lideranças estudantis entoava: “Eu não abro mão do Bolsonaro na prisão” logo no início do ato.
Lideranças históricas do PT, José Dirceu e José Genoino, estiveram no Largo de São Francisco. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mandou cancelar atos do governo em memória das vítimas do golpe, não marcou presença em nenhum ato.
“O governo não quis promover ações e atos com alusão aos 60 anos do golpe, mas esse ato foi convocado pelos movimentos populares, e nós somos autônomos. E nós achamos importante marcar”, diz Bonfim.
O único tema lateral que pegou carona na pauta do ato é a crítica a à ação militar israelense em Gaza, afirmou.
Bonfim, que iniciou história de líder comunitário na favela de Heliópolis, em São Paulo, diz que a escolha do Largo de São Francisco para o protesto se deu em razão de o local abrigar a Faculdade de Direito da USP, uma instituição importante na luta contra a ditadura.
Ele rechaça comparações com o ato convocado por Bolsonaro na Avenida Paulista em fevereiro, e antes de começar a manifestação já reconhecia que não conseguiria mobilizar tanta gente quanto a direita mobilizou, até por conta da chuva.
“É claro que vão querer fazer comparação, mas quem está no desespero é o lado de lá, que é o lado do fascismo e da extrema direita, porque o líder deles já está indiciado pela Polícia Federal”, afirmou, em referência à investigação sobre falsificação de certificados de vacinação contra a Covid-19. — Esse ato já estava sendo construído por conta dos 60 anos do golpe militar, mesmo antes de o Bolsonaro convocar o ato dele na Paulista.
Atos pelo país
As manifestações ocorreram em diversas capitais do país, como Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza e Goiânia. Também houve um ato em Lisboa, em Portugal. Os organizadores diluíram as manifestações em diferentes cidades, evitando assim uma comparação direta com a convocação feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que reuniu 185 mil pessoas na Avenida Paulista, em 25 de fevereiro. A estimativa de público foi feita pelo pesquisador da USP, Pablo Ortellado.
Em Minas Gerais, a manifestação contou com a presença do deputado federal Rogério Correia (PT-MG). Além de gritos contra anistia para envolvidos nos atos de 8 de janeiro e em defesa da democracia, o grupo também exibiu uma faixa com a mensagem “Fora Zema”, uma crítica ao atual governador do estado, Romeu Zema (Novo-MG).
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