
Por Cláudio Soares*
A aprovação relâmpago da chamada PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados tem provocado indignação de direita e esquerda, unindo vozes que raramente compartilham o mesmo palanque. Em plena noite de terça-feira, com quórum garantido e pouca atenção da mídia tradicional, deputados federais aprovaram uma proposta que, na prática, dificulta o andamento de investigações contra parlamentares, blindando-os contra decisões do Judiciário.
A proposta, tratada por seus críticos como um “autosalvamento institucional”, provoca uma grande revolta sobre o real compromisso do Congresso com o combate à corrupção e a responsabilização dos agentes públicos. Em meio a crises econômicas e política, aumento da desigualdade e descrença nas instituições, a Câmara decidiu legislar em causa própria – e com urgência.
Não surpreende que as ruas tenham respondido. Protestos surgiram em várias capitais e até cidades médias. Em Brasília, cartazes compararam a situação ao Nepal, país que passou por revoltas populares após anos de abuso de poder e ausência de representatividade real. O paralelo, ainda que distante em contexto, é claro em essência, quando o povo perde a fé nos representantes, a rua fala mais alto.
A reação negativa foi tão forte que o Senado Federal já sinaliza resistência à proposta, temendo o desgaste junto à opinião pública. Mas a pergunta que ecoa é unânime – por que a Câmara se empenha tanto em aprovar leis que beneficiam os próprios parlamentares, enquanto projetos estruturais seguem engavetados?
Deputados argumentam que a PEC visa “proteger o mandato” e evitar perseguições políticas. Mas o texto aprovado estabelece barreiras para que medidas judiciais contra parlamentares sejam executadas – incluindo a necessidade de autorização da própria Casa Legislativa para decisões de prisão, busca e apreensão, ou quebra de sigilo. Em outras palavras, cria-se um escudo legal contra o alcance da Justiça.
O cinismo político atinge níveis constrangedores. Em vez de discutir reformas que importam à população – saúde, segurança, educação, saneamento – nossos representantes priorizam blindagens jurídicas, como se o Congresso fosse um bunker a salvo da realidade.
A crise de representatividade se aprofunda. Parlamentares subestimam o poder das redes sociais e o desgaste que esse tipo de manobra causa. Movimentos civis, estudantes, trabalhadores e até empresários começam a demonstrar insatisfação. E quando assistimos que até deputados da chamada ‘esquerda’ votaram a favor o enjoo aumenta. E vimos que até apoiadores tradicionais do governo e da oposição se juntam nas críticas, é porque algo está claramente fora do eixo.
A PEC da Blindagem é mais um capítulo vergonhoso da política brasileira, que insiste em se proteger da justiça em vez de se alinhar com os interesses do povo. Resta saber se o Senado terá coragem de barrar esse retrocesso – ou se vai apenas vai empurrar a crise para debaixo do tapete e quando a poeira baixar pôr essa desgraça em votação.
O povo está atento e perdendo a paciência. E o Congresso, cada vez mais, parece viver em outra realidade.
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