
Casado com uma das filhas do pastor Silas Malafaia, o professor Anderson Silveira se tornou o principal captador de emendas parlamentares da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). À frente do Programa Esporte Para a Vida Toda (Previt), Silveira coordenou um projeto que recebeu R$ 14 milhões do Ministério do Esporte em 2024 — mais que o dobro do segundo colocado da instituição. A iniciativa, no entanto, provocou uma crise interna na universidade e resultou na renúncia coletiva da diretoria da Fundação de Apoio da Rural (Fapur). Com informações do jornal O Globo.
O Globo identificou cabos eleitorais e aliados de deputados entre os beneficiados do programa, que destina R$ 11,7 milhões em bolsas, sendo R$ 7 milhões para pessoas de fora da universidade. O Previt prevê 75 núcleos esportivos em mais de 20 municípios fluminenses; ao menos 14 funcionam em igrejas, com envolvimento direto de pastores. O financiamento foi feito por meio de um Termo de Execução Descentralizada do ministério, o que dificulta rastrear os parlamentares responsáveis pelas emendas.
De acordo com o jornal, os deputados Laura Carneiro (PSD-RJ) e Roberto Monteiro (PL-RJ) — respectivamente aliados do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e do governador Cláudio Castro — indicaram núcleos do programa. Anderson Silveira admite que parlamentares sugerem localidades, mas afirma não saber quem direcionou os recursos. “Ele (Malafaia) nem sabe que eu trabalho com esse tipo de coisa. Os parlamentares não determinam, mas eles chegam a solicitar que haja, quando possível, uma atenção para essa ou aquela região. Pode acontecer de o parlamentar fazer algum tipo de propaganda no próprio núcleo, mas isso está fora do nosso controle”, disse.
A distribuição de bolsas em valores considerados “atípicos” para os padrões da UFRRJ preocupou instâncias internas da universidade. Mais de 80% dos R$ 14 milhões do Previt foram destinados a esse tipo de auxílio, o que fez o projeto ser visto como de baixo retorno acadêmico, por priorizar o público externo. A Fapur, responsável pela execução financeira, renunciou em bloco em agosto, alegando anomalias na condução da iniciativa. A antiga diretoria afirmou em carta que deixava a fundação “com o sentimento do dever cumprido”, sem citar diretamente o motivo da saída.
Anderson, por sua vez, alega que o projeto sofreu atrasos por falhas administrativas da Fapur e que o Ministério do Esporte orientou o aumento das bolsas para evitar a devolução de verbas não utilizadas. “O projeto chegou a atrasar por incapacidade da fundação de gerir os recursos”, justificou. O valor do Previt representa metade dos R$ 33 milhões captados pela Fapur via emendas nos últimos cinco anos, segundo o jornal.
A influência política também se reflete nas contratações. Jorge Luiz Almeida Dalta, aliado de Laura Carneiro e membro do Instituto Nelson Carneiro, recebe R$ 6 mil mensais como coordenador administrativo do Previt. Já em São Gonçalo, o pastor Cleverson Pinheiro, contratado para “apoio comunitário”, gravou vídeo agradecendo ao deputado Roberto Monteiro por levar o projeto à região. Procurada, a UFRRJ disse que as seleções priorizaram pessoas com experiência em projetos sociais e sem vínculo pessoal de qualquer tipo, e negou associação religiosa ou ideológica na escolha dos locais.
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