O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), sinalizou na quarta-feira em almoço que irá apoiar Hugo Motta (Republicanos-PB) para a sucessão ao comando da Casa. Em um dia movimentado por conversas a portas fechadas, Lira se juntou a líderes de sete partidos para celebrar o aniversário do candidato do Republicanos. A demonstração foi robusta, com a participação de representantes de siglas que somam 325 parlamentares, mais do que o necessário para uma eventual vitória em primeiro turno (257).
Do outro lado da disputa, o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), declarou ter ignorado convite para um diálogo com Lira, de quem é próximo. Elmar foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a tarde e reafirmou a disposição de continuar na corrida. Além disso, ressaltou o apoio do PSD e de dissidentes de siglas do Centrão e sinalizou ao Palácio do Planalto que não terá o apoio do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Insatisfeitos com o cenário, parlamentares do União Brasil já começaram a qualificar Lira como “traidor”.
Sócios do ‘projeto’
Após o almoço em homenagem a Motta, o líder do PT, deputado Odair Cunha (MG), declarou que o presidente da Câmara confirmou o apoio ao líder do Republicanos. Estiveram no local Altineu Côrtes (PL-RJ), Doutor Luizinho (PP-RJ), Isnaldo Bulhões (MDB-AL), além de representantes de Podemos, PV e PCdoB. Embora reconheça que o encontro não foi realizado para colher o apoio oficial, Motta disse a interlocutores que os convidados são aqueles que “já estão embarcando no projeto”.
O parlamentar ressaltou ainda a necessidade de mergulhar na campanha e conversar com todos os deputados, pois o momento seria de “construção de pontes”. A eleição só ocorrerá em fevereiro. Com o voto secreto, há margem para traições de parlamentares aos partidos.
Deputados esperam que o presidente da Câmara possa fazer um anúncio formal esta semana, embora já tenha postergado o prazo mais de uma vez. Motta tem dito que cabe só ao próprio Lira o anúncio, “no tempo dele”, e que não vê motivos para acelerar o processo.
Já Elmar Nascimento teve, além da conversa com Lula, uma reunião com integrantes da cúpula e da bancada do União Brasil. Após o segundo compromisso, ele não escondeu a contrariedade com a situação. O presidente da Câmara chegou a ser o principal fiador de sua candidatura.
— Minha pré-candidatura segue de pé. Nada mudou. O presidente (Arthur) Lira é do PP, mas não me falou nada. Ele me procurou hoje, mas não tive tempo. Só falo sobre ele quando ele falar em on (em público, oficialmente sobre o apoio a Hugo Motta). Eu não tenho inimigos, nem vou ter. Toda hora que ele chamar, vou aceitar — disse Elmar.
O cenário sofreu uma reviravolta na semana passada, quando Marcos Pereira (Republicanos-SP) abriu mão de sua candidatura em favor de Hugo Motta, que angariou apoio relevante em pouco tempo.
Na conversa com Lula, Elmar disse que quer criar um blocão de apoio com o PSD, do também candidato Antônio Brito (BA), do qual só não fará parte o PL.
Ele sinalizou que, mais à frente, perto da eleição de fevereiro, a candidatura será liderada por ele ou Brito. Ou seja, o parlamentar mais bem posicionado.
Na visão de auxiliares do governo, o líder do União Brasil quis deixar claro a Lula seu potencial de votos, pois chegou a citar a possibilidade de atrair parte relevante do PP, mesmo à revelia de Lira.
Segundo aliados de Lula, Elmar está tentando se desvencilhar do presidente da Câmara para construir uma relação mais próxima com o governo. O Planalto avalia que o parlamentar está irritado com Lira
Um gesto claro em direção ao governo foi feito na terça-feira, quando ele se colocou à disposição do Planalto para trocar os nomes da legenda na Comissão de Constituição e Justiça para adiar a análise do projeto de lei de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
Na conversa de quarta-feira, Lula voltou a dizer a Elmar que não tem objeção a ele e a nenhum outro nome na disputa. O presidente reforçou que não irá interferir no processo e que é legítimo Elmar se posicionar como postulante.
O Palácio do Planalto, no entanto, prefere o líder do Republicanos. Desde a semana passada, articuladores de Lula começaram a atuar para que Motta tenha adesão de partidos da base do governo, inclusive pressionando o MDB.
De acordo com relatos, o encontro entre Lula e Elmar foi em tom cortês e acompanhado do ministro do Turismo, Celso Sabino, e das Comunicações, Juscelino Filho, ambos do União Brasil.
Na quarta-feira, o deputado Alexandre Leite (União-SP) acabou admitindo ao microfone do Conselho de Ética da Câmara o que parlamentares do União Brasil veem manifestando nos corredores desde a reviravolta na sucessão:
—O presidente Arthur Lira traiu o deputado Elmar. Ele traiu o nosso líder — disse Leite. — Não há ninguém mais descontente com o deputado Arthur Lira do que nós.
Consulta a Bolsonaro
Após o almoço de Hugo Motta, o líder do PL, Altineu Côrtes, disse que a bancada será consultada para se posicionar sobre o apoio ao candidato do Republicanos. Segundo ele, tanto o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, quanto o ex-presidente Jair Bolsonaro vão conversar com Lira sobre o assunto.
— Hugo é um nome que reúne todas as qualidades. É do partido de Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo), mas vamos ouvir a bancada — disse Altineu.
Já o líder do PT disse que “apoia o nome de Hugo Motta para sua sucessão, como um nome qualificado para a construção da unidade na casa”. Odair afirmou ainda que vai “submeter o nome” dele à bancada do PT.
A aliança desenhada entre PSD e União também foi selada para valer na disputa à presidência do Senado, onde Davi Alcolumbre (União-AP) é candidato. Apoiadores de Motta avaliam, porém, que o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e a cúpula do União têm desavenças históricas. O aceno a Elmar, portanto, seria uma forma de valorizar o partido nas negociações por apoio ao líder do Republicanos.
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