Pelas pesquisas, ao menos até agora, a presidente Dilma tem sua reeleição assegurada. A pergunta que se faz é se confirmada no segundo mandato, preservará sua ligação umbelical com o ex-presidente Lula ou se, no reverso da medalha, dará seu grito de independência e governará conforme seus próprios padrões, pessoas e objetivos. Porque Dilma exerceu um poder pela metade, desde que assumiu. Suas principais decisões seguiram a orientação do antecessor. Não poderia ser diferente porque, jamais tendo sido candidata sequer a vereador, viu-se de repente eleita presidente da República por obra e graça do Lula, que poderia ter escolhido um poste para sucedê-lo. Mesmo sem maiores ligações com o PT, já que foi fundadora e fiel escudeira de Leonel Brizola, do PDT, a presidenta só virou companheira quando em vias de tornar-se ministra de Minas e Energia do Lula.
Jamais integrou-se ideologicamente no Partido dos Trabalhadores e sempre desempenhou suas funções, depois na Casa Civil, conforme concepções próprias, mas subordinada e submissa ao então presidente da República. Empossada no palácio do Planalto, manteve a submissão, fosse aceitando as indicações para o ministério, fosse subordinando-se aos permanentes conselhos do chefe.
O diabo é que com o passar dos meses e dos anos, prevaleceu a natureza das coisas. Não há duas pessoas iguais. Muito menos dois pensamentos. Continuou a relação de identidade entre o antecessor e a sucessora na medida em que ele mandava e ela obedecia, mas diferenças de concepção se acentuaram. Lula sugeria e impunha uma estratégia de tolerância no trato da coisa pública, Dilma cada vez mais exacerbava sua intransigência, a ponto de demitir ministros impostos pelo chefe quando flagrados em mal-feitos óbvios.
Mesmo assim, continuou a relação de subordinação, em especial quando se abriram as preliminares da sucessão presidencial. Prova de lealdade de pai para filho foi e continua sendo dada pelo ex-presidente quando rejeita propostas de interromper a cadeia de fidelidade partidária, não aceitando sua candidatura imediata para retornar ao poder. Prefere aguardar 2018, entendendo direito de Dilma disputar o segundo mandato.
Como compensação ela segue em gênero, número e grau as recomendações do mestre, ainda que cada vez mais discordando de suas diretrizes. Chega o ponto inflexão: pelas pesquisas, será reeleita, quem sabe até no primeiro turno, em função da identidade entre professor e aluna. Configura-se, porém, o divisor de águas. Aproxima-se a ruptura. Na posse do segundo mandato, Dilma terá à sua frente quatro anos onde poderá ,se quiser, governar pelas próprias mãos. Sem agredir o tutor, até porque ele dispõe de condições excepcionais para sucedê-la, poderá romper o vinculo de subordinação que os ligou desde que assumiu. De preferência, sem agressões.
Numa palavra, depois de quatro anos, a presidente poderá compor seu próprio governo e imprimir ao país as diretrizes com que sonhava Leonel Brizola. Sem o sapo barbudo a seu lado.
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