PREFEITURA DE TRINDADE

SARGENTO EDYMAR

19 fevereiro 2015

Copa: Prejuízo de 'elefantes brancos' já supera R$ 10 milhões

Sete meses após o fim do Mundial, estádios da Amazônia, Pantanal e Brasília são encargo para contribuintes; falta de transparência impede cálculo exato.

O prejuízo de três "elefantes brancos" da Copa – os estádios Mané Garrincha (Brasília), Arena Amazônia (Manaus) e Arena Pantanal (Cuiabá) – para os respectivos contribuintes já atingiu pelo menos R$ 10 milhões desde o fim do Mundial, indica um levantamento feito pela BBC Brasil.
Os dados, de difícil acesso, são incompletos e portanto a conta é uma estimativa. Após três meses de contato com governos e administração dos arenas, a busca iniciada em dezembro não obteve um resultado exato para o balanço (custo de manutenção x arrecadação mensal) desses estádios desde o fim da Copa do Mundo.
A BBC Brasil procurou obter também informações sobre o quarto "elefante branco" do torneio, a Arena das Dunas, de Natal – sem sucesso.
Manaus, Natal, Cuiabá e Brasília não são cidades com tradição no futebol. Por isso, ao serem escolhidas como sede da Copa do Mundo, despertaram críticas pelo alto investimento público em estádios que corriam risco de ficar sem uso.
A maior dificuldade na busca pelas informações foi a de conseguir respostas com números exatos. Em Brasília, não se sabia quanto o Mané Garrincha custava por mês; na Arena das Dunas, esse valor é desconhecido até hoje; Cuiabá e Manaus foram os únicos que forneceram a informação algumas semanas depois que ela foi solicitada.
Sobre o valor da arrecadação, ele ainda não havia sido calculado até o fim do ano passado pelos governos responsáveis pela construção dos estádios.
Passada a troca dos governadores no início deste ano. A BBC Brasil solicitou novamente as mesmas informações às novas administrações de cada Estado. Com exceção da Arena da Amazônia, os outros três estádios estão passando por auditoria para investigar possíveis irregularidades nas contas, que pode indicar o valor real do prejuízo.
Veja a situação de cada estádio:
Mané Garrincha (Brasília)
"O custo de manutenção (do Mané Garrincha) é praticamente insignificante perto do que está arrecadando", disse à BBC Brasil Cláudio Monteiro, então secretário extraordinário da Copa em Brasília, em dezembro de 2014. "Pra quem seria um elefante branco, está sendo um estouro." O estádio de Brasília está passando por auditoria e pode ser privatizado.
A conclusão do novo governo é um pouco diferente. O estádio de Brasília custa R$ 600 mil por mês, e o valor arrecadado no total desde sua inauguração, em maio de 2013, foi R$ 5,5 milhões. O prejuízo em 19 meses seria de R$ 5,9 milhões.
"O custo do estádio? Essa é a pergunta que não quer calar. Nosso levantamento está em R$ 600 mil, mas pode aumentar. A gente ainda está querendo saber qual é a cor desse elefante", afirmou Jaime Recena, secretário de Turismo do Distrito Federal – pasta responsável pela administração do Mané Garrincha.
O governo anterior, de Agnelo Queiroz (PT), terminou de maneira conturbada pelo excesso de gastos públicos. A administração do novo governador, Rodrigo Rollemberg (PSB), iniciou o mandato com um rombo de quase R$ 4 bilhões, e a construção do Mané Garrincha faz parte dos "problemas" a serem administrados pela nova gestão.
O estádio em Brasília recebeu 28 eventos desde o fim da Copa até dezembro de 2014, sendo 12 relacionados ao futebol.
A lotação deles, porém, nunca chegou perto da capacidade máxima, de 72 mil lugares – o evento mais cheio foi o desafio Brasil x Argentina de futsal, com público de 56.578. Um jogo entre Botafogo e Atlético-MG pela última rodada do Campeonato Brasileiro chegou a ter 3.694 torcedores.
O novo governo espera o fim da auditoria para definir se irá privatizar o estádio ou não.
Arena da Amazônia (Manaus)
Atualmente, a Arena da Amazônia tem um custo mensal de R$ 700 mil e conseguiu ter bons públicos em jogos do Flamengo e de outros times cariocas. No entanto, apenas sete partidas aconteceram lá desde a Copa. O estádio foi inaugurado às vésperas do Mundial.
Sem times nas quatro divisões do futebol nacional, a Arena da Amazônia tenta atrair equipes cariocas.
Em seis meses após o mundial, foi arrecadado R$ 1,5 milhão até janeiro de 2015, contando jogos do torneio amistoso entre Flamengo, Vasco e São Paulo no início do ano. O prejuízo até aqui seria de R$ 2,7 milhões.
"É a coisa mais simples fazer evento aqui", disse Aly Almeida, um dos responsáveis pela administração da Arena da Amazônia, sobre a facilidade de atrair eventos para o estádio. "Todos esses que já aconteceram eu nem levantei da cadeira para ir atrás."
"Está havendo um equilíbrio tranquilo", havia dito ele, sobre as conta da arena em dezembro do ano passado.
Segundo o atual governo do Amazonas, a ideia da administração é abrir licitação para privatizar o estádio ainda no primeiro semestre desse ano. O estado também entrou na disputa para sediar jogos de futebol na Olimpíada do Rio em 2016.
Arena Pantanal (Cuiabá)
Atualmente, o governo do Mato Grosso gasta R$ 300 mil por mês em manutenção com a Arena Pantanal, inaugurada em abril de 2014.
A Arena Pantanal recebeu 15 jogos de futebol em 2014 após a Copa, somando os das séries A, B, C e D. O lucro, no entanto, foi pequeno, já que a arena cobrou apenas R$ 50 mil de aluguel para os jogos da primeira e segunda divisão e não cobrou pelos outros para "incentivar o futebol local".
Para piorar, o fluxo de receitas para cobrir os custos foi interrompido no fim de janeiro depois que a arena de 42 mil lugares foi interditada por conta de "irregularidades". A empresa Mendes Júnior, responsável pela construção dela, voltou ao local e está fazendo reparos.
Construída para sediar quatro jogos da primeira fase da Copa, Arena Pantanal está interditada para reparos.
Segundo a atual administração de Pedro Taques (PDT), a Arena Pantanal é "o menor dos problemas deixados pelo governo anterior". As outras obras prometidas para a Copa do Mundo – incluindo o VLT (Veiculo Leve sobre Trilhos), que foi licitada por R$ 1,4 bilhão e ainda está atrasada – não foram entregues e preocupam a atual gestão.
Em contato com a reportagem, o governo do Mato Grosso afirmou que está realizando uma auditoria tanto no estádio quanto nas outras obras da Copa do Mundo para investigar um eventual superfaturamento delas.
Pelos cálculos da BBC Brasil, somente a arena já gerou um prejuízo estimado de R$ 1,4 milhão.
Arena das Dunas (Natal)
A Arena das Dunas é a única das quatro citadas que não é 100% pública. O estádio foi construído através de PPP (parceria público-privada) com a construtora OAS, que atualmente administra o local.
A Arena das Dunas foi construída em uma PPP com a OAS e custou R$ 423 milhões. A concessão vale por duas décadas, e o Estado pagará por ela nos próximos 17 anos. Nos primeiros 11 anos, o governo arcará com uma prestação de R$ 9 milhões mensais; do 12º ano ao 14º, serão R$ 2,7 milhões; e nos últimos três anos, R$ 90 mil.
Ao final de tudo, o governo terá pago mais de R$ 1,2 bilhão pelo estádio. O custo da construção foi de R$ 423 milhões.
A reportagem solicitou tanto à OAS quanto ao governo do Rio Grande do Norte os custos de manutenção e os valores arrecadados pelo estádio até agora. O governo disse que ainda não recebeu o balanço pós-Copa da construtora que, por sua vez, respondeu que as informações de custo "variam de evento para evento" e as de arrecadação "estão em apuração e serão auditadas".
A Arena das Dunas foi um dos mais utilizados entre os chamados "elefantes brancos" após a Copa. A média de público nos jogos de futebol foi de pouco mais de 9 mil pessoas - a capacidade é de 31.375 lugares.

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