Marcos Augusto Gonçalves - Folha de S.Paulo
Não contive as lágrimas diante da imagem do Museu Nacional em chamas na tela da TV. Era a própria ideia latente de um Brasil iluminista e iluminado que ali se consumia sem que nada pudéssemos fazer.
Porque –tristeza e revolta– o que era para ter sido feito não foi.
A instituição, em que pese sua magnitude e importância, enfrentava restrições de recursos há anos num país em que autoridades se esbaldam em benesses pagas com o dinheiro público, mas não conseguem um trocado para cuidar do patrimônio histórico nacional. Um descaso criminoso com a cultura, a história, o passado –e também com o futuro.
Envergonho-me diante das novas gerações de brasileiros. Como explicar que deixamos virar cinza a mais antiga instituição museológica do pais, seu acervo enorme, de valor inestimável, e sua sede histórica –o palácio que foi residência da família real?
“Que tipo de gente era essa que cuidava deste país naquela época?”, um dia o futuro perguntará –se tivermos um que nos possa inquirir e, quem sabe, redimir.
A destruição do Museu Nacional, o Museu da Civilização Brasileira, como bem o classificou o arquiteto Washington Fajardo, assume uma dimensão simbólica funesta neste momento em que o Brasil parece esfarelar-se em nossas mãos.
Tempo de desintegração, tempo sombrio que nos deixa órfãos de um país sonhado.
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