Itamar Garcez – Blog Os Divergentes
As redes sociais não são reflexo absoluto do pensamento da população física, aquela que tem CPF. Afinal, o fato de alguém não se manifestar não implica ausência de opinião.
Mas certamente as social networking são um bom termômetro dos movimentos de massas que se configuram no mundo virtual para depois desembarcarem na Avenida Paulista. Foi em busca desse parâmetro que uma nova agência de informação, a Mitra, produziu um estudo inédito.
De acordo com um dos titulares da agência, Pedro Ferreira, “se alguém espera que o “Fora, Temer” venha das ruas, está enganado”. O título do trabalho de 18 páginas já traz a conclusão: “A desidratação do ‘Fora Temer’ nas redes sociais”.
Para chegar ao veredito foi necessário antes levantar dados de manifestações políticas na internet. O corte foi a primeira semana de julho.
Em seguida, a Mitra partiu de uma estatística que aponta a origem das recentes manifestações de rua. Segunda ela, 99% dos protestos de ruas contra o presidente Michel Temer “com mais de 3 mil usuários com presença confirmada foram organizados por partidos políticos, movimentos sociais ou usuários alinhados à oposição”. Ou seja, concluem os organizadores do estudo, até aqui não houve mobilização de segmentos “neutros” ou “apartidários”.
Dados da ePS (ePoliticSchool), escola de comunicação digital que tem entre seus sócios Xico Graziano e Mauricio Salvador, dividiram a militância nas redes entre bloco azul (mais à direita) e bloco vermelho (mais à esquerda). O levantamento da ePS contabilizou 5,7 milhões (36%) de engajamentos do grupo vermelho e 10,3 milhões (64%) do azul. Por engajamento leia-se a soma de curtidas, comentários e compartilhamentos, ou seja, aqueles que reagem diante de um post.
Temer, o mal menor
Mostras de postagens indicam que os usuários azuis das redes sociais (onde germinaram as manifestações de rua contra a presidente Dilma Rousseff antes do impeachment que a depôs) chegaram a se empenhar pela destituição do mandatário diante do colossal impacto das primeiras denúncias contra Temer reveladas pel’O Globo. O movimento, no entanto, arrefeceu diante de três “fatores”.
Primeiro, a deposição de Temer impulsionaria a candidatura Lula. Segundo, sites ligados aos “vermelhos” passaram a reproduzir postagens “azuis” que defendiam o “Fora, Temer”. Terceiro, o acordo entre o procurador-geral da República Rodrigo Janot, que “garantiu impunidade à empresa [JBS], não trazia nada contra o PT”.
Um quarto fator pode ser acrescentado: o bloco azul defende as reformas liberais do presidente da República. Enfim, o alvo era “evitar um novo governo com maior alinhamento ao PT” – receio que recaía sobre o sucessor imediato, deputado Rodrigo Maia.
O estudo não aposta na permanência de Temer no poder. Mas indica que não deve haver mobilização de monta nas ruas para pressionar os deputados a rejeitar o relatório do deputado Paulo Abi-Ackel na próxima quarta, 2 – e, com isto, abrir caminho para a deposição. A queda do mandatário-tampão dependerá, assim, de “conchavos” e de novas denúncias.
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