Estudo mostra que Estado fica mais quente a cada década, criando ambiente de proliferação para o mosquito
Leo Motta/Folha de Pernambuco
No Recife, 75% dos focos estão em água parada para uso doméstico
O estudo, publicado pela primeira vez na revista científica norte-americana Earth Science & Climatic Change no final do ano passado, mostra a mudança em cinco pontos de
Pernambuco: Recife, na Região Metropolitana; Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata; Caruaru, no Agreste; Petrolina e Arararipina, ambas no Sertão. São as únicas cidades pernambucanas que têm registros ininterruptos do clima de pelos menos 40 anos. “Todas as cidades apresentaram aumento da temperatura máxima. A que mais esquentou, Araripina, viu o termômetro subir 1,2 graus por década entre 1962 e 2011. Esse é um recorde na América Latina. Para se ter uma ideia, o segundo lugar é Vitória, que aumentou quase meio grau por década”, explicou uma das autoras do artigo, a meteorologista do Ipa Francis Lacerda, que estudou o assunto em sua tese de doutorado.
Com os números, os meteorologistas podem estimar o clima pernambucano até 2050. E o calor vai continuar a aumentar. As chuvas se tornarão mais escassas. “Começamos a perceber uma diminuição no nível pluviométrico e podemos notar uma alteração nos ciclos hidrológicos. As chuvas mudam de comportamento. Então, chove menos e mais espaçadamente na época de chuvas, o que pode causar sérios problemas. Um deles é a segurança alimentar. Culturas como o milho e o feijão provavelmente não se adaptarão e os agricultores irão tentar mantê-las vivas utilizando a água incorretamente ou aplicando mais agrotóxicos”, previu Francis.
Para o meteorologista Geraldo Majella, o problema deve ser agravado principalmente por causa da ainda crescente urbanização e do desmatamento. “Nós já somos deficitários em recursos hídricos por natureza, mas estamos cobrindo artificialmente o solo e a população está aumentando. Isso piora o problema inicial. E com o aumento do calor, a chuva evapora mais, também. Então, é preciso saber que tipo de intervenções fazer. A transposição funciona apenas quando há água. Quando não há, intensifica a seca. Passamos por um processo de aridificação”. Recife é a cidade pesquisada que mais deixa de chover. A cada década, a média de chuva anual diminui em 44 milímetros. Petrolina vem em segundo lugar registrrando diminuição de 42 milímetros por década.
Tanto a falta de recursos hídricos quanto o aumento da temperatura podem trazer consequências negativas para o pernambucano, além das que os pesquisadores do Ipa já citam. De acordo com a coordenadora do Programa de Controle de Dengue, Chikungunya e Zika, Claudenice Pontes. “Há três anos, quase não víamos casos da doença em cidades como Triunfo, com climas mais amenos e alta altidude, porque essas são características desfavoráveis para o mosquito. Hoje, todo o Estado está em situação de risco, sem exceção. Minha suspeita é que um aumento de temperatura está relacionado a isso”, palpitou.
Arte/FolhaPE
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