Carlos Chagas
Descobre-se mais uma identidade entre a presidente Dilma Roussef e o deputado Eduardo Cunha: ambos gostariam que já estivéssemos no Natal. Menos para ganhar e distribuir presentes e para celebrar a data com sofisticadas refeições. Mais porque se chegarem ao período de férias parlamentares e judiciais no exercício de seus mandatos, poderão considerar-se senão a salvo das ameaças de impeachment e de cassação, ao menos dispondo de um trégua para reajustar seus dispositivos. Serão semanas de tranquilidade para elaborar estratégias de defesa, a mais importante delas a arte da conversa. Terá chegado a hora de procurar aliados e até adversários para longas tertúlias. Argumentar, tanto quanto prometer.
Sofrerão, a presidente da República e o presidente da Câmara, neste resto de outubro e durante todo o mês de novembro. A previsão é do acirramento dos ânimos, tanto na oposição e em parte do PMDB, favoráveis ao afastamento de Madame, quanto no PT e em consideráveis grupos de outros partidos, indignados com o comportamento financeiro do presbítero.
Está marcada para amanhã a apresentação do novo pedido de impeachment da presidente, pelos mesmos autores do primeiro. Eduardo Cunha levará alguns dias para despachá-lo. Novos argumentos exigirão nova leitura. Aceitando o pedido, o presidente da Câmara decidirá sobre a comissão especial encarregada de apreciá-lo, marcando depois data para submeter o parecer ao plenário. Tudo indica que Papai Noel já terá chegado.
Quanto às denúncias contra Cunha, é improvável que o juiz Moro peça ao Supremo Tribunal Federal para determinar sua prisão. Mais remota ainda seria essa decisão. Por enquanto a questão limita-se ao Conselho de Ética da Câmara, amparado em declaração anterior do deputado, de não possuir contas bancárias no exterior. Desmentido pela Procuradoria da Suíça, ele poderá ser acusado de haver mentido, razão suficiente para abertura de processo de cassação. Mesmo assim, a decisão precisará ser no voto, onde as opiniões se dividem.