Em meio à crise, boa relação entre Jair Bolsonaro e Donald Trump não impediu efeitos de barreiras tarifárias e redução de vendas de produtos brasileiros, enquanto dólar alto prejudicou as compras; repactuação com Joe Biden será fundamental para retorno aos níveis pré-pandemia.
Donald Trump e Jair Bolsonaro: americano deixou o cargo sem cumprir promessa de apoiar o Brasil para entrada na OCDE. — Foto: REUTERS/Tom Brenner |
Nem aproximação do governo de Jair Bolsonaro com o ex-presidente americano Donald Trump impediu uma queda expressiva do comércio entre Brasil e Estados Unidos em 2020, em meio à pandemia do coronavírus.
Levantamento da Amcham Brasil com base nos dados do Ministério da Economia dá conta de que o intercâmbio comercial entre os países teve o pior resultado em 11 anos, desde o desenrolar da crise do subprime.
Além de uma pauta comercial baseada em produtos mais trabalhados, as barreiras tarifárias impostas por Trump, que não puderam ser revertidas, prejudicaram a indústria brasileira, segundo a entidade.
De acordo com dados oficiais, a corrente de comércio em 2020 — soma entre exportações e importações — foi de US$ 45,6 bilhões, redução de 23,8% em relação a 2019. Foram vendidos US$ 21,5 bilhões (-27,8%), enquanto as compras somaram US$ 24,1 bilhões (-19,8%). Houve, portanto, déficit de US$ 2,6 bilhões.
O resultado destoa da média da balança comercial brasileira. A somatória das movimentações foi de US$ 368,847 bilhões em 2020 contra US$ 401,4 bilhões em 2019, uma redução de 9%.
O Brasil exportou US$ 209,9 bilhões e importou US$ 158,9 bilhões, quedas de 6,1% e 9,7%, respectivamente. No agregado, houve superávit de US$ 50,9 bilhões.
"O setor siderúrgico foi muito afetado. Há restrições em vigor desde 2018, que tiveram efeito nos dois anos passados, mas foram ainda mais negativas em 2020", afirma Abrão Neto, vice-presidente executivo da Amcham Brasil.
Neto afirma ainda que produtos importantes da pauta, como petróleo e derivados, sofreram com quedas de preço durante a pandemia. São produtos de "maior valor agregado", que tiveram curso diferente da aceleração de comércio de insumos básicos, como alimentos exportados para a China.
"Acreditamos que os níveis voltarão ao patamar pré-crise em 2021", diz Neto.
O Brasil registrou aumento de exportações para os asiáticos, principais parceiros comerciais. Foram US$ 67,6 bilhões, contra US$ 63,3 bilhões em 2019. Dentre os 10 principais parceiros, as exportações caíram em sete. Apenas a Holanda (-31%) reduziu mais as compras do Brasil que os EUA. Chile e Japão tiveram reduções semelhantes.
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