Vice de Bolsonaro e presidente da instituição diz que a intenção é formar bancada que faça ‘política com P maiúsculo’
Rafael Ciscati e Bernardo Mello
Indicado vice na chapa presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), o general Antônio Mourão (PRTB) carrega para a campanha eleitoral as esperanças de uma instituição adormecida. Distante da política partidária desde os anos 1960, o Clube Militar, no Rio de Janeiro, quer voltar à cena. O fato de Mourão ser presidente do clube desde maio facilita as coisas. Ele promete aumentar o peso da atuação dos associados.
O projeto inclui promover novos candidatos fardados para formar uma “bancada militar” no Congresso no futuro. Nas contas de Mourão, até a semana passada havia mais de cem pré-candidatos ligados às Forças Armadas:
— Esse projeto começou ainda na administração anterior à minha — diz Mourão. — Somos a casa da República. O clube quer somente retomar o papel que tinha em sua gênese.
A instituição pretende organizar palestras sobre política e publicar um informativo com o que o clube espera dos que forem eleitos.
Segundo Mourão, o clube preza pela “primazia da educação pública” e pela defesa da “política com P maiúsculo”:
— A ideia é que os candidatos que apoiaremos se orientem por esses princípios. Queremos formar uma bancada dentro do Congresso. Para, a partir daí, iniciar um processo de mudança no Brasil.
Filho de general, Mourão ingressou na Academia Militar de Agulhas Negras em 1972. Ganhou notoriedade em 2015, durante o impeachment de Dilma Rousseff. Crítico da então presidente, durante uma palestra a militares da reserva ele defendeu que a saída da petista não seria suficiente para mudar o status quo.
Nos slides da apresentação, convocou os presentes à “luta democrática”. Dias depois, anunciou uma homenagem ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi e acusado de tortura durante a ditadura militar.
As declarações derrubaram Mourão do Comando Militar do Sul. Ele acabou no comando de uma mesa na Secretaria de Economia e Finanças do Exército.
Hoje, quando perguntado sobre o assunto, assume posição mais diplomática:
— A função institucional do Exército está muito bem definida pelo general Villas Bôas — afirma Mourão.
Ser presidente do Clube Militar era desejo antigo do candidato a vice de Bolsonaro. Foi eleito por aclamação, numa disputa em que ninguém mais concorreu. Diz que pretende manter a vida dupla — entre a presidência do clube e a disputa pelo Jaburu — enquanto durar a corrida eleitoral.
O Clube Militar teve papel preponderante durante os primeiros anos do regime republicano. O Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, foi um de seus fundadores:
— Foi na sede do Clube que se planejou o golpe para derrubar o imperador (Pedro II) — diz o historiador Eduardo Heleno Santos, da Universidade Federal Fluminense. A atuação declinou durante a ditadura militar. Segundo Santos, devido a disputas internas das Forças Armadas.
RETOMADA DA POLÍTICA
A retomada da atividade política do clube começou na gestão do general da reserva Gilberto Pimentel, antecessor de Mourão. Pimentel lançou, no início de 2015, a Campanha pela Moralidade Nacional, propondo debates para “corrigir” as “diversas distorções” na política e na sociedade. Na época, o clube lançou o e-book “Por um país melhor”, uma coletânea de artigos que envolveu militares e civis — entre eles, o então senador Marcelo Crivella, atual prefeito do Rio de Janeiro.
Nos últimos anos, a sede do Clube virou foco de encontros políticos. No dia 20, haverá palestra do presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, desembargador Thompson Flores, que reverteu a ordem de soltura do ex-presidente Lula expedida pelo desembargador Rogério Favreto.
O site e a revista trimestral publicam artigos de referências do pensamento conservador, como o filósofo Denis Rosenfield. Alguns textos, assinados por militares, defendem que não houve ditadura militar — mas um “regime de salvação”.
O coronel Ivan Cosme, diretor de Comunicação do clube, garante que a instituição não pretende fazer atividades partidárias em suas dependências. Mas também não quer ficar à parte das pautas nacionais:
— Quem diz que os militares estão “de pijamas” e que a reserva não apita, está dando um tiro no pé — diz.
As ambições coincidem com um momento de explosão de candidaturas fardadas. Mourão, que já defendeu uma intervenção militar e atribui problemas nacionais a heranças de portugueses, negros e indígenas, é só o mais conhecido.
Mourão encara a politização do Clube como uma obrigação institucional:
—Nós estamos cumprindo aquilo que consideramos nosso desígnio — afirma.
Mourão fez aniversário no último dia 15. Comemorou entre os colegas, no clube:
— Foi algo frugal — diz Cosme — Mas teve até bolo.
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