Bernardo Mello Franco – O Globo
A intervenção federal no Rio foi anunciada como uma “jogada de mestre”. Depois de seis meses, tornou-se um problema. A atuação das Forças Armadas não estancou a alta dos homicídios no estado. Agora a sensação de fracasso começa a corroer a imagem da tropa.
Segundo o Datafolha, o apoio ao uso dos militares despencou 17 pontos em dez meses. Em outubro passado, 83% dos moradores do Rio eram favoráveis à medida. O índice encolheu para 66%.
A maioria dos entrevistados considera que a intervenção está sendo inútil. Para 59%, a medida não fez diferença alguma no combate à violência. Outros 12% consideram que a situação piorou. Eram apenas 2% em março, na última rodada do levantamento.
Os dados coincidem com outra má notícia. Nesta semana, os militares passaram a reforçar a estatística de vítimas da violência. Desde a segunda-feira, três soldados foram mortos em tiroteios no Complexo do Alemão. Ontem os interventores anunciaram que a região continuará ocupada por tempo indeterminado. A megaoperação envolve 4.200 homens e afeta a vida de cerca de 550 mil moradores, somando outras favelas na Maré e na Penha.
O filme se repete desde fevereiro, quando Michel Temer decretou a intervenção. “O crescimento do número de operações espetaculares, que empregam milhares de agentes para apreender poucas armas e raramente desarticular quadrilhas, é a grande marca da segurança no Rio nos últimos meses”, critica o relatório “Vozes da Intervenção”, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes.
Publicado na semana passada, o estudo também afirma que os interventores não cumpriram a promessa de priorizar investimentos em inteligência e no combate à corrupção policial. “Olhando os números, vemos um quadro desalentador”, resume a socióloga Silvia Ramos, que coordena a equipe de pesquisadores.
Às vésperas de terminar, a intervenção ainda carrega outro passivo. Não elucidou a morte da vereadora Marielle Franco, executada com o motorista Anderson França. Hoje o crime completa 162 dias sem castigo.
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