Passado um ano e meio da delação, ainda não se sabe a quem se referem os apelidos
Cleide Carvalho e Gustavo Schmitt – O Globo
Um ano e meio após a homologação das delações da Odebrecht, a Lava-Jato ainda não conseguiu descobrir quem são os codinomes "Mestre" e "Tremito" que aparecem nas planilhas da empresa como destinatários de propina num contrato com a Petrobras. Nem os delatores da construtora conseguem dar a resposta.
Segundo o ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria, o pagamento da propina foi discutido em julho de 2010 num encontro onde estavam o presidente Michel Temer, o ex-deputado Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves. O MDB teria pedido US$ 40 milhões, e o PT teria levado US$ 8 milhões. Todos os envolvidos negam ter discutido propina.
O contrato que resultou em pagamento de propina a "Mestre" e "Tremito" valia US$ 800 milhões e se destinava à criação do Plano de Ação de Certificação em Segurança, Meio Ambiente e Saúde (PAC-SMS).
Dois delatores da Odebrecht, que prestaram depoimento ao juiz Sergio Moro nesta segunda-feira, disseram que não sabem a quem se referem os apelidos na planilha de propinas da empresa.
Luiz Eduardo Soares, um dos executivos do departamento de propinas, afirmou que o acordo previa o pagamento de propinas ao MDB de Minas Gerais e que foi procurado pelo operador Ângelo Lauria, apelidado de Coiote na planilha de pagamentos, para que fizessem entregas de dinheiro em Belo Horizonte.
Segundo Soares, Lauria "falava demais" e, por isso, os executivos da Odebrecht decidiram que os pagamentos feitos a ele seriam em reais.
— Achamos que ele não era muito preparado para ter uma conta no exterior, segura — disse Soares, lembrando que toda vez que reclamava de Lauria para César Ramos Rocha, seu superior hierárquico dentro da Odebrecht, este dizia que iria falar com o "chefe dele".
Rocha é réu no processo e deverá depor ao juiz Sergio Moro na condição de delator.
Em depoimento, Lauria disse que fazia entregas de dinheiro a emissários do PT e do PMDB em postos de combustíveis. Contou que abria o porta-malas do carro e o emissário da propina colocava mochilas cheias de dinheiro dentro dele.
Cerca de US$ 15 milhões foram pagos, segundo os delatores da Odebrecht, a Mário Miranda, que também se dispôs a colaborar com a Lava-Jato. Para evitar problemas com a movimentação do dinheiro, foi assinado um contrato de falsa prestação de serviços, depois de uma reunião ocorrida entre Soares e o próprio Miranda no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Soares disse que não sabe para quem Miranda entregaria o dinheiro.
A ação em curso na Justiça Federal de Curitiba não envolve os políticos, apenas operadores de propina e funcionários da Petrobras que participaram do esquema, e teve origem na 51ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Batizada de 'Déjà Vu', a operação cumpriu 23 mandados judiciais, sendo quatro de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 17 de busca e apreensão.
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