Cachês atrasados e desvalorização atrapalham o crescimento da cultura em PE
Um entrave cultural marca a desconfiança de artistas pernambucanos com a Prefeitura da Cidade do Recife e o Governo do Estado. As limitações e barreiras impostas para esses profissionais conseguirem um espaço em eventos de grande porte, sejam como instrutor de oficinas ou até mesmo atração musical, trazem o sentimento de frustração.
Divulgação
Nena Queiroga diz que teve que reapresentar sua documentação que foi perdida
Questionado sobre o atraso nos repasse do cachê, o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Roberto Lessa, informou à Folha de Pernambuco que cerca de 98% dos artistas que se apresentaram no Carnaval deste ano já foram pagos. O presidente diz que para agilizar o pagamento da festa de São João, a comissão montou um esquema para avaliar a documentação entregue e que os empenhos das primeiras apresentações já estão liberados. A previsão é que até fim de agosto todos os artistas já tenham sido pagos.
Os que não receberam o empenho, segundo Lessa, apresentam alguma irregularidade na documentação. “Hoje temos outro tratamento com os artistas. Quem dita o prazo para receber o valor são eles mesmos. O cachê é pago assim que eles apresentam as notas fiscais e documentos comprobatórios exigidos pelo edital. Quanto mais rápido eles trouxerem, mais rápido liberamos os cachês”, ressalta.
Contudo, não é isso que alguns afirmam. A cantora Nena Queiroga, por exemplo, conta que apesar de ter entregue a documentação corretamente, ela precisou preparar toda a papelada de novo, pois seus documentos foram perdidos. “Isso atrasou ainda mais pagamentos que já estavam atrasados. Não consigo entender por que artistas de fora recebem seus cachês na hora e os nossos ficam sempre para dois meses depois, ou mais”, explica.
De acordo com Matheus Torreão, da banda A Caranava do Delírio, essa disparidade no tratamento entre nomes pernambucanos e externos ao Estado é um dos pontos que mais incomodam. “A gente tocou no PE Nação Cultural, em Caruaru, no início de maio. A infraestrutura era muito boa, mas seguimos sequer sem previsão do pagamento. Liguei para o financeiro, e, para ter uma previsão de quando sai, o pagamento tem que ser empenhado. Perguntei qual a previsão pra empenharem e ninguém fazia a menor ideia. Enquanto que, quando a atração é de fora, recebe um cachê cinquenta ou cem vezes maior que o nosso, adiantado”, argumenta.
Ele ainda aponta como entrave a burocracia excessiva. “Quando fui fazer o cadastro como produtor do Funcultura, precisei pegar uma fila imensa duas vezes porque no meu comprovante de residência estava escrito ‘até a presente data’ e o correto era ‘até o presente momento’. Isso porque eles não fornecem nenhum modelo de como deve ser feita essa declaração. Outra vez, a gente teve que fazer a banda inteira reconhecer firma de novo porque a procuração foi assinada em documentos separados e tinha que ser tudo no mesmo documento, embora já tenha sido inventado o grampo”, relata.
Em um caso mais sério, tem artista que reclama de não “ver a cor do dinheiro” de oficinas e shows que aconteceram no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) de 2010. Um profissional, que preferiu não se identificar, comunicou à Folha de Pernambuco que ao cobrar da Fundarpe o empenho, a instituição disse “que a verba acabou no período eleitoral”. Sobre irregularidades no projeto, ele afirma que existia uma lista de pendências anexada e todos os itens estavam riscados, indicando que o profissional estava com a documentação em ordem. A reportagem entrou em contato com a Fundarpe, mas até o fechamento da edição, não obteve resposta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário