PREFEITURA MUNICIPAL DE TRINDADE

12 novembro 2012

Abelhas não resistem à seca e Araripe deixa de produzir mel

 A maior seca dos últimos 50 anos não vitimiza apenas homens e animais. Nem os insetos escapam ao calor e à falta de água. Integrantes do mesmo universo das formigas e vespas, as abelhas que deram a Araripina, a capital do gesso no Sertão nordestino, o status de maior produtora de mel puro, sumiram do mapa.
As espécies que povoam os enxames que resistem às intempéries, em apiários no meio da caatinga, andam tão fracas que permitem o homem chegar bem próximo ao seu habitat sem representar ameaças de picadas. Na sexta-feira pela manhã, este blogueiro constatou essa dura realidade em colmeias de apicultores da região.
Foi possível, por exemplo, fotografar as caixinhas de madeira com as colmeias de Francisco Idelfonso de Lima Silva, o Idelfonso do Mel, sem qualquer tipo de proteção.

 Ele pediu silêncio absoluto, nada mais. “Em época normal de produção, não podemos chegar sequer a uma distância de 100 metros, a não ser com roupa apropriada”, diz ele.
Como o gado que morre por falta de pastagem, as abelhas procuram o néctar nas vegetações que dão a floração da sua preferência e só encontram galhos secos. “A seca devastou 100% da floração e com isso as abelhas não têm como entrar em fase de produção”, revela Idelfonso, que é presidente da Associação dos Apicultores do Araripe.
Segundo ele, este ano a produção de mel foi praticamente reduzida a zero, saindo de 12 mil toneladas em 2011 para ínfimas 300 toneladas. A apicultura no Araripe é uma atividade que gera renda e emprego, mas ainda é muito precária, porque ali não se pratica o mais importante – o beneficiamento.
Parte do maquinário doado pelo Estado chegou, mas está estocado num prédio pertencente à Secretaria de Agricultura.  O prédio doado pelo IPA, onde funcionava uma casa de farinha abandonada, que funcionou no Governo Arraes, já foi doado, mas as ações se esgotaram. Resultado: toda a produção de mel é comercializada in natura para Estados que têm capacidade de beneficiamento, como o Ceará.
“Nós temos em torno de 400 apicultores na região atuando em Araripina, Bodocó e Moreilândia. Todos, sem exceção, sofreram um amargo prejuízo”, diz Idelfonso. Como ele, Gilberto Silva, o “Giba do Mel”, que paralisou seu apiário em Feira Nova do Saco, o chamado santuário do mel, deixou de faturar cerca de R$ 80 mil na safra deste ano.
“Para não ficar de braços cruzados me voltei à produção de mandioca, que também foi afetada pela estiagem, mas em menor intensidade”, diz Giba. Arnaldo Granja, um dos maiores apicultores de Feira Nova do Saco, também recolheu todas as caixas do seu apiário em casa. E para evitar a dizimação total dos exames por falta de água, bancou a perfuração de uma pequena barragem para armazenar a água da próxima invernada – se houver.
Arnaldo e os irmãos Antônio, Nivaldo e Givaldo atuam juntos e produziram 37 toneladas de mel no ano passado, enquanto fecham 2012 com apenas 300 kg. “O que produzi serviu apenas para alimentar as colmeias. Deixei 80% para manutenção dos enxames”, contou. Na condição de maiores produtores da região eles deixaram de faturar R$ 130 mil.


POTENCIAL DO MEL
A região do Sertão do Araripe possui dez municípios produtores de mel que, juntos, respondem por 80% da produção de Pernambuco. Araripina ocupa o 1º lugar em produção de mel no Brasil, de acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE - 2010.  A atividade tem crescido significativamente nos últimos três anos e emprega em média 800 pessoas na região.
Outro destaque apontado na pesquisa é o município de Bodocó, que aumentou em mais de 200% a produção, de 2008 para 2011, e entrou no ranking, representando o Estado como o 12º maior produtor, seguido por Ibimirim que ocupa a 15ª colocação.
Para fortalecer o potencial da região, o Sebrae atua junto aos apicultores por meio de capacitações e consultorias tecnológicas e gerenciais com foco no mercado. A entidade trabalha a visão empresarial dos produtores para que a atividade passe a ser um negócio, e não apenas uma prática de subsistência.
“O objetivo do projeto é promover o acesso ao mercado nacional de forma integrada e sustentável, agregando valor ao produto, e contribuindo para o aumento do volume de vendas e da lucratividade do público–alvo”, comenta Maria Lucélia Souza, gerente da Unidade de Negócios Sebrae no Sertão do Araripe.
Segundo ela, o resultado tem sido positivo e pode ser registrado pela conquista da Associação de Apicultores de Bodocó (AAPIB), que foi a primeira associação a receber o registro de Estabelecimento Relacionado (ER) ao Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura, tornando-se a primeira do estado a receber certificação federal.
“Antes do SIF, os produtores de mel vendiam o produto em tambores de 200 litros. Com o selo, a comercialização pode ser fracionada e a produção não passará pelos ‘atravessadores’, que, até então, ficavam com boa parte do lucro”, comemora a gerente do projeto.
O trabalho do Sebrae não para com a certificação da AAPIB. A entidade já viabiliza consultorias a uma Cooperativa de Apicultores e mais duas associações da região, para que se adequem às exigências do mercado e do Ministério da Agricultura na busca da certificação. A instituição expandiu ainda o atendimento a apicultores nas regiões do Pajeú e do São Francisco. Além do mel, a Unidade Sebrae Sertão do Araripe apoia um apiário de teste para a produção de pólen na caatinga pernambucana.

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