Decreto nacional de emergência em saúde devido à malformação e o zika completa dois meses
Arthur Mota/Folha de Pernambuco
Estado acumulava até 11 de novembro 487 casos suspeitos e agora tem 1,4 mil
Nesta quinta-feira (11), o decreto nacional de emergência em saúde pública devido à microcefalia e o zika completa dois meses. Há 60 dias os casos suspeitos da malformação no cérebro somavam 739 notificações no Brasil, distribuídos em nove estados. Agora, já são 4,7 mil casos registrados em 25 estados. Um aumento de aproximadamente 530%. Já Pernambuco acumulava até 11 de novembro 487 casos suspeitos e agora tem 1,4 mil notificações. Uma alta de 187,5%. Os números impressionam e geram polêmicas. Há juristas defendendo que o aborto seria uma alternativa, o que abriu discussões em todo o Brasil, principalmente entre religiosos.
Na última quarta (10), a presidente Dilma participou do encontro do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic). A autorização para o aborto em casos de microcefalia é alvo de ponderação entre as igrejas. Se a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já afirmou que a epidemia de zika no Brasil não justifica a medida, outros grupos preferem ainda não tomar posição sobre o assunto e avaliam que cabe ao governo arbitrar sobre o tema.
“Hoje, a gente tem uma resposta possível, não a ideal. Essa discussão é muito recente. O propósito da igreja é sempre pela vida”, disse dom Flávio Irala, bispo da Igreja Anglicana. “Mas não podemos ficar nos escondendo de debates polêmicos”, completou. Irala, que é presidente do Conic, disse que a entidade não discutiu o assunto e ponderou que é preciso ter cautela para não criar “antagonismos dentro do conselho”. Presidente da Aliança de Batistas do Brasil, Joel Zeferino afirmou ser necessário discutir o assunto com a sociedade. “É preciso incluir nesse debate as mulheres que sofrem esse aborto, sobretudo das periferias das cidades, mulheres negras, que de fato fazem esses abortos ilegais”, comentou.
Nas últimas semanas, observou- se que os números permanecem subindo, mas em ritmo menos acelerado, mas é precário falar em controle da epidemia. Durante esse tempo, houve mudança na padronização da microcefalia de 33 cm para 32 cm de perímetro cefálico, a adoção de protocolos para crianças e gestantes e assistência. E depois de quase um ano sem notificação própria, o zika passou a ser computado como tal e diferenciado da dengue.
A palavra de ordem agora tem sido a cooperação internacional para frear o avanço do vírus, da microcefalia e das complicações neurológicas. Mais de 20 países e territórios das Américas já tiveram notificação da arbovirose, que começou a chegar também na Europa, mas tem circulação antiga na África e Ásia. Nessa construção de conhecimento para a guerra contra a doença, problemas diplomáticos colocaram em xeque inclusive a administração da presidente Dilma Rousseff. O governo começou a estruturar um pacote de medidas para agilizar acordos e aumentar a troca de informações com outros países.
O assunto foi o tema de em reunião no Palácio do Planalto, na última quarta (10), com os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia). A previsão é que o plano seja lançado até o final deste mês, e deve incluir iniciativas como convênios com laboratórios internacionais, produção de vacinas em parceria com os Estados Unidos e a diminuição da burocracia para exportação de amostras do vírus da zika.