Lula, na obra do Itaquerão, com o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez e Emílio Odebrecht (dir.)
Valdo Cruz - Folha de S.Paulo
Recentemente, antes do impeachment de Dilma Rousseff, conversava com dois petistas amigos de Lula sobre o futuro do ex-presidente. Garantiam que nada de corrupção seria provado contra ele. Indagados sobre as investigações do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, os interlocutores de Lula, muito próximos a ele, disseram-me quase no mesmo tom: este foi o erro dele, aceitar pequenos favores de empresários, ele não achava errado.
Um deles, com certo ar de reprovação, afirmou: "O Lula tinha dinheiro para comprar aquele apartamento, fazer aquelas reformas no sítio, mas nada está no nome dele, não é dele, são pequenos favores que o mundo da política se permite". Lembrei-me desta conversa ao ler a manchete deste domingo da Folha, do excelente jornalista Mario Cesar Carvalho: "Itaquerão foi presente para Lula, diz Emílio Odebrecht". Revelação do que vem por aí da delação da construtora baiana.
Conta que a construção do estádio do Corinthians, que custou R$ 1,2 bilhão, foi um presente para o corintiano Lula, apaixonado por futebol. Que torcedor no país não gostaria de dar a seu time de coração presente semelhante? Eu não daria. Simplesmente, primeiro, por saber como são administrados os times de futebol no Brasil. Segundo, porque, se ganho um presente deste tamanho, é porque algo me será cobrado em idêntica proporção ou já estarei sendo recompensado.
Será que o Itaquerão entra na lista dos "pequenos favores" recebidos pelo ex-presidente Lula? Ele nega. Será que nada será provado contra ele? Até aqui, de fato, nada foi. Lula, porém, já é réu em três ações.
Um dado da reportagem de Mario Cesar levanta suspeita sobre os presentes -o sítio de Atibaia teve reformas bancadas pela construtora. O faturamento do grupo Odebrecht, nos governos do PT (2003 a 2015), saltou de R$ 17 bilhões para R$ 132 bilhões. Enfim, que venha a delação da Odebrecht. Para o bem do país.
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