Com centenas de grupos e de associações representativas, os caminhoneiros mantiveram para hoje o começo de uma paralisação nacional por tempo indeterminado. No entanto, somente será possível calcular o impacto da decisão depois que o movimento tiver início, pois a categoria está dividida em vários grupos a favor e contra a greve.
Mas, segundo fontes ligadas ao setor, dificilmente terá a força que teve em 2018, quando, entre 21 e 30 de maio, houve paralisação nas estradas, piquetes e vários episódios de violência contra aqueles que tentavam furar o boicote. A consequência da greve foi o desabastecimento de vários gêneros, combustível e disparada nos preços nas gôndolas dos supermercados.
Pelas estimativas do Conselho Nacional dos Transportadores Rodoviários de Cargas (CNTRC), haverá caminhoneiros com os braços cruzados em 22 estados. A entidade representa mais de 40 mil profissionais e afirma que o movimento durará até que o governo federal resolva atender às demandas da categoria.
A principal reivindicação da classe é relativa à política de preços adotada pela Petrobras sobre o litro do óleo diesel. Na última semana, por exemplo, a petroleira reajustou em quase 5% o preço médio do combustível. Mesmo com a pressão dos caminhoneiros, o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, afirmou que isso não era um problema da empresa.
“Todo mundo sabe onde bater: na porta da Petrobras. A Petrobras não será mais vilã. Em função da política independente de preços da Petrobras, sem interferência do governo, seguindo preços de paridade internacional, temos atraído investidores”, afirmou Castello Branco durante evento com investidores.
Para não interferir na política de preços da estatal, o governo federal propôs zerar ou reduzir alguns tributos do diesel, como o PIS/Cofins. Essa diminuição sobre os impostos do combustível teria impacto de R$ 800 milhões nos cofres públicos. Entretanto, segundo Plínio Dias, presidente da CNTRC, isso não é suficiente.
“Quero questionar o presidente da Petrobras, pois ele é um dos responsáveis por existir esse PPI (Preço de Paridade de Importação), que aumenta o preço do diesel a cada 15 dias. Ele veio falar que nossa frota está defasada. Ele não entende nada de transporte. A gente só não está melhor devido à situação que ele está causando ao país. Estão equiparando nosso gás de cozinha, nosso combustível e o nosso diesel com o dólar. Não entende que o brasileiro recebe em real? Quando a gente começa a respirar, a Petrobras aumenta o diesel, aumenta tudo e a gente não consegue acompanhar”, criticou Plínio.
De acordo com a pauta de reivindicações, além da mudança no preço do insumo, a categoria cobra a modificação da redação do Projeto de Lei 4.199/20, o BR do Mar. O PL foi aprovado pela Câmara em dezembro do ano passado e, agora, está em tramitação no Senado. Para os manifestantes, o texto dá vantagem para empresas estrangeiras no transporte de cabotagem, o que favorecia a contratação de empresas donas de frotas para fazer o transporte em detrimento de caminhoneiros autônomos.
Relator do PL no Senado, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) afirmou que construirá um canal de comunicação entre o Congresso, o governo e os caminhoneiros. “Vamos atuar de forma serena e justa para intermediar, justamente para tentar atender às necessidades e evitar essa greve que vai prejudicar o país”, afirmou Trad ao Correio.
Além da CNTRC, o movimento vem sendo conduzido pela Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB) e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP). Segundo os organizadores da paralisação, existe uma orientação para que as estradas pelo país sigam com trânsito livre, sem interdição do trânsito.
“Vamos fazer a manifestação dentro da lei. Está na Constituição o direito de fazer livre manifestação”, afirma Plínio Dias. Uma liminar concedida, neste final de semana, pela Justiça Federal do Rio de Janeiro, proíbe caminhoneiros em greve de bloquear, mesmo que parcialmente, a rodovia BR-101, que margeia o litoral do país. Além disso, outra decisão já havia negado permissão para bloqueios na Rodovia Presidente Dutra, trecho da BR-116 que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.
Adesão à greve é contestadaApesar da movimentação, outros grupos de caminhoneiros afirmam que o movimento não terá adesão da maioria dos profissionais do setor. Para a Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bens e Cargas (Conftac), que reúne dezenas de associações pelo país, a avaliação feita é que ainda existe margem para negociar com o governo federal. “A maioria da categoria é contrária à especulação política escancarada de alguns. Acreditamos que esse não é o momento apropriado para um movimento de paralisação, em respeito a uma sociedade que não pode arcar com o desabastecimento e outras consequências”, argumenta José da Fonseca Lopes, presidente da Conftac.
Além da Conftac, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) também descartou aderir ao movimento e afirmou que está em constante debate com o Ministério da Infraestrutura para tratar de uma agenda de reivindicações que tem quase 20 itens. Na mesma linha, a Confederação Nacional do Transporte (CNT), representante das empresas transportadoras, negou apoio à greve e diz que garantirá o abastecimento no país, desde que seja garantida a segurança nas rodovias.
Ontem, um áudio atribuído ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, começou a circular entre diversos grupos de WhatsApp dos caminhoneiros. Na gravação, a pessoa afirmava que não negociaria com os grevistas.
Em nota, a pasta afirmou que o ministro conversou, por telefone, com representantes da Associação dos Caminhoneiros e Condutores de Capão da Canoa (RS). Durante a conversa, Tarcísio teria reafirmado a posição do governo federal, dentre as quais a de não negociar com qualquer indicativo de paralisação ou locaute. “Vai ser um movimento fraco, não vai ter adesão. As empresas de transporte não vão parar, os principais sindicatos não vão parar .Tenho recebido mensagens de apoio de diversos líderes de caminhoneiros. Eles não querem parar, querem trabalhar. Esse é o sentimento geral”, disse o ministro.
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