Dez anos após o ex-presidente Lula dar o pontapé inicial das obras, esboço de um projeto do tempo do Império, em 1877, as águas da Transposição do Rio São Francisco transbordam por canais e começam a chegar a regiões distantes. Sábado passado, moradores de Sertânia, no Sertão do Moxotó, região inóspita, com reservas hídricas esgotadas e chão esturricado, molharam as mãos e os pés, pela primeira vez, com as águas do Velho Chico.
A notícia de que seria possível transportar a água do rio da Integração Nacional para regiões mais secas transformou-se em realidade e, mais do que isso, em esperança para um povo esquecido livrar-se do flagelo da seca e da humilhação de não ter um copo de água para matar a sede. Menos de 5% do potencial hídrico do País estão no Nordeste, que detém entre 12% e 16% das reservas de água doce para atender 22,5 milhões de habitantes.
Foram muitos anos de espera, mas o imaginário começou a virar real quando as comportas do sistema foram acionadas na quarta estação de bombeamento do Eixo Leste, na cidade de Custódia, no Sertão do Moxotó, completando um percurso de 96,5 km do trecho. De lá, seguiu por gravidade até a quinta estação elevatória, em Sertânia. A expectativa do Ministério da Integração Nacional é chegar ao segundo Estado, Paraíba, pela cidade de Monteiro, já no próximo mês.
Em Floresta, há 20 dias, o presidente Michel Temer (PMDB) já havia acionado a estação elevatória três, chamada tecnicamente de EBV-3, que abasteceu três reservatórios – Salgueiro, Muquém e Cacimba Nova, além do aqueduto Jacaré. Quando totalmente concluída, a Transposição vai atender mais de 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A obra foi iniciada durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com base no projeto elaborado no Governo de Fernando Henrique Cardoso. Depois do investimento inicial, de cerca de R$ 4 bilhões, o rendimento dos trabalhos diminuiu em 2010 por problemas de adequação do Projeto-Base à realidade da execução, e novas licitações precisaram ser feitas. Somente no final de 2013, conforme o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo projeto, às obras foram 100% retomadas.
Temer vai a Monteiro, no próximo dia 6, entregar sexta estação elevatória, permitindo que os paraibanos passem a contar, também, com água em abundância retirada do leito do São Francisco. Por mais esforço que possa fazer, Temer nunca entrará para a história como padrinho do projeto. A Transposição tem o DNA de Lula e é ele que vai captar, politicamente, os dividendos da obra, perpetuando-se como o governante que fez um sonho do Império virar realidade.
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