PREFEITURA DE TRINDADE

SARGENTO EDYMAR

01 outubro 2018

Balanço do 1º turno: mais certezas do que incógnitas

Segundo turno parece definido e PSDB deve mergulhar em crise profunda após eleição
Leandro Colon – Folha  de S.Paulo
A seis dias do primeiro turno, o balanço da campanha eleitoral carrega hoje mais certezas e probabilidade do que incógnitas.
1. O segundo turno presidencial deve ser disputado entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
2. O provável fiasco da candidatura de Geraldo Alckmin vai mergulhar o PSDB em uma crise profunda. Após 24 anos de polarização com o PT, ganhando duas e perdendo quatro disputas, os tucanos têm sido esnobados pelo eleitor. Tiveram ainda de assistir a dois expoentes regionais do partido, Beto Richa (PR) e Marconi Perillo (GO), serem alvejados por operações policiais na campanha —um deles, Richa, chegou a ser preso
3. Impressiona a rapidez do derretimento de Marina Silva (Rede). Em um mês, despencou do segundo lugar para o patamar de um quase nanico. Se deseja ser candidata em 2022, a ex-senadora precisa repensar erros cometidos nos quatro anos em que teve liberdade e tempo (como nenhum outro adversário) para construir uma candidatura sólida.
4. Ciro Gomes (PDT) foi o candidato que mais criou expectativas no processo eleitoral. Esteve prestes a fechar com o centrão, que o trocou por Alckmin (há quem diga que com a bênção de Lula). Mesmo solitário, Ciro deu sinais de fôlego para ser uma terceira via capaz de atravessar o duelo Bolsonaro x Haddad. As pesquisas recentes, entretanto, indicam que o combustível do pedetista já entrou na reserva.
5. O candidato do impopular governo de Michel Temer não conseguiu nem o papel de coadjuvante. Apesar dos milhões gastos e de um trabalho de marketing bem criativo, o ex-ministro Henrique Meirelles(PMDB) não passou de um figurante.
6. Há um saldo negativo de episódios que mancham a campanha: um atentado a faca contra Bolsonaro, declarações irresponsáveis do próprio que ameaçam princípios democráticos, a omissão de autoridades no combate a fake news e a inexplicável censura imposta por um ministro do STF a uma entrevista de Lula, personagem importante da eleição.

Bancadas de 2019: DEM vai avaliar resultado 1º turno

A cúpula do DEM, um dos partidos avalistas de Alckmin, se reúne no dia 9 de outubro, dois dias após o primeiro turno, para fazer um balanço dos resultados.
Caciques do centrão começam a colocar na ponta do lápis projeções sobre a composição do Congresso no ano que vem. Pelo desenho que fizeram, PT e PP devem eleger as maiores bancadas da Câmara, com cerca de 50 deputados cada um.
PSDB, PSD, PR, MDB, DEM e PRB viriam no pelotão seguinte, elegendo entre 36 e 45 deputados. Os dirigentes do centrão apostam que o Novo e a Rede conseguirão fazer algo como 6 deputados cada um. (Daniela Lima – Folha Painel)

O milagre esperado por Alckmin demora a sair

Ainda inerte nas pesquisas de intenção de votos, Geraldo Alckmin (PSDB) vai usar os últimos dias de propaganda eleitoral para fazer um chamado à racionalidade do eleitor que não quer nem PT nem PSL.
Não há, porém, muita gente que acredite em um milagre que possa levá-lo ao segundo turno.
Segundo o último Datafolha, 46% dos eleitores de Alckmin declaram voto em Haddad em um eventual segundo turno entre o petista e Bolsonaro.
O candidato do PSL fica com 31% dos eleitores que apoiam o tucano. (Folha Painel)

Olho em Bolsonaro, Haddad vai mais ao interior

Daniela Lima - Painel - Folha de S,Paulo
De olho em um embate com Jair Bolsonaro (PSL), a campanha de Fernando Haddad (PT) vai ampliar a presença do petista no interior do Sudeste, mais especificamente em São Paulo, Minas e Rio nesta última semana antes do primeiro turno. Detalhamento do Datafolha dá pistas sobre a motivação. É o interior paulista que garante vitória a Bolsonaro no estado na simulação de segundo turno. Em Minas, o inverso. O candidato do PSL vence em BH, mas fica numericamente atrás no cômputo geral.
No Datafolha, nas simulações de segundo turno entre PSL e PT, Haddad vence Bolsonaro na capital paulista por 45% a 35%, mas perde no estado por 46% a 37%. Os petistas vão tentar diminuir a vantagem do rival no interior para passar à próxima fase da eleição em situação menos desconfortável. 
Em Minas, a ideia é fortalecer o campo em que o  petista leva vantagem. O norte mineiro tem mais similaridades com o Nordeste do que com o Sudeste. No estado como um todo, Haddad aparece numericamente à frente em eventual segundo turno: 43% a 41%. Na capital, Bolsonaro bate o petista: 44% a 35%.
Nesta semana,  Haddad ainda fará uma blitz no Rio: região oeste, Niterói, São Gonçalo e Baixada Fluminense. O PT contratou um helicóptero para dar conta dos deslocamentos. No estado, Bolsonaro abre a maior vantagem no Sudeste: 49% a 35% em eventual segundo turno, aponta o Datafolha.

Fim das ilusões para Ciro e Alckmin

Empate de Haddad com Bolsonaro
Helena Clagas -Blog  Os Divergentes
A pesquisa CNT/MDA divulgada neste domingo trouxe o primeiro empate entre Jair Bolsonaro (28,2%) e Fernando Haddad (25,2%). Na margem de erro e sem registrar queda de Bolsonaro, que vem mostrando surpreendente resiliência diante da pancadaria dos últimos dias, provocada sobretudo por declarações bizarras de integrantes de sua própria campanha. Mas o principal traço da pesquisa é a confirmação da tendência de crescimento do petista e a chance de que ele chegue ao primeiro turno na frente do adversário.
Outro dado que confirma e acentua a tendência detectada tanto pelo Ibope quanto pelo Datafolha na semana passada é a possibilidade de vitória de Haddad sobre Bolsonaro no segundo turno: 42,7% a 37,3%. No quesito rejeição, Bolsonaro continua liderando, com mais de 55%, mas a de Haddad também é alta, chegando a 48%.
A CNT/MDA também fulmina os argumentos da propaganda de Geraldo Alckmin na TV, mostrando cenários de segundo turno em que o candidato do PSDB é derrotado tanto por Bolsonaro (37% a 33,6%) quanto por Haddad (39,8% a 28,5%). O tucano tem 7,3% no primeiro turno, atrás de Ciro Gomes, com 9,4%,a uma distância praticamente insuperável dos dois primeiros lugares a uma semana da eleição.
Como não se trata nem de Ibope nem de Datafolha, muita gente olhará enviesado para esse levantamento. Ele também não captou o sábado de enormes manifestações anti-bolsonaristas. Mas se os demais institutos confirmarem esses resultados ao longo da última semana de campanha, teremos nos próximos dias o fim das ilusões de Ciro Gomes e Geraldo Alckmin de reverter o quadro para o segundo turno e um embate final em que o petista sairá na frente.

Fim de feira: governoTemer

Elio Gaspari – Folha de S.Paulo
O crepúsculo do governo de Michel Temer transformou-se numa xepa. A turma da privataria quer apressar o leilão de 12 terminais de aeroportos. Temem que o novo governo paralise a transação. Deveriam temer o contrário.
Na área das agências reguladoras a liquidação adquiriu seu pior aspecto. Nomearam-se diretores com mandatos que se estenderão pela maior parte do governo do próximo presidente.
Isso seria, no mínimo, falta de educação.
Na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, detonou-se o que havia de racionalidade na sua direção, e o presidente foi-se embora para a Organização Pan-Americana da Saúde. Para o lugar foi nomeado um diretor que, apesar de ser médico, celebrizou-se como deputado e prefeito de São Bernardo.
Na diretoria da Anvisa ficam agora um sobrinho do senador Eunício de Oliveira, um indicado por Romero Jucá, mais uma sumidade trazida por Paulo Maluf e, finalmente, um sábio que acumula parentescos, pois é primo do marqueteiro Elsinho Mouco e do ministro das Cidades, Alexandre Baldy.
Luís XV celebrizou-se por ter dito que depois dele viria o dilúvio. Temer quer ser o próprio aguaceiro.

Rivais miram Haddad e Bolsonaro no penúltimo debate














O Globo - Bernardo Mello, Fernanda Krakovics e Bruno Góes
Bolsonaro e Haddad viram alvos, e adversários se apresentam como terceira via
Presidenciáveis apelam contra polarização em debate na TV
Uma estratégia uniu neste domingo adversários na sucessão presidencial: sete dos oito candidatos, em debate na TV Record, se posicionaram contra a polarização, indicada pelas pesquisas eleitorais. Em sua maioria, apontaram Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), os mais bem colocados nas pesquisas, como um risco à democracia. Mesmo ausente, Bolsonaro foi lembrado com mais frequência do que em outros debates que ocorreram depois de ser alvo de atentado em Juiz de Fora (MG). Todos fizeram referências às eleitoras, em alusão clara às manifestações do “Ele Não”, organizadas pelas mulheres contra o candidato do PSL.
O capitão da reserva foi criticado numa dobradinha entre Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Depois, Marina Silva (Rede) associou Bolsonaro a Haddad, e disse que ambos representam projetos autoritários. Haddad foi criticado por Marina e Ciro pela proposta de “criar condições” para convocar uma Assembleia Constituinte, que consta em seu programa de governo.
Marina fez sua crítica após ser questionada por Ciro sobre a desconfiança levantada por Bolsonaro em relação às eleições . O candidato do PSL declarou, semana passada, que só uma fraude impediria sua vitória nas urnas.
— Temos que enfrentar dois projetos autoritários: aqueles com saudosismo da ditadura, e aqueles que fraudaram a eleição de 2014, como foi o caso da Dilma e do Temer pelo uso da corrupção. O Brasil não precisa ficar entre a espada da corrupção e a cruz do autoritarismo — disse Marina
A candidata da Rede citou ainda as propostas do PT de controle da mídia e de convocação de uma Assembleia Constituinte:
— Isso também é um risco à democracia.
No terceiro bloco, foi a vez de Ciro Gomes questionar Haddad sobre a proposta de uma Constituinte. Ciro disse que era preciso que o adversário fosse claro sobre o assunto porque o presidente da República “não tem esse poder”. Haddad recorreu ao ex-presidente Lula.
— Na verdade, a nossa Constituição tem mais de 100 emendas. O presidente Lula era candidato até pouco tempo atrás. Ele imagina uma situação em que nós poderíamos criar as condições para que nós pudéssemos, no futuro, não agora, ter uma constituição mais moderna. Mais enxuta, com princípios e valores bem constituídos. Reequilibrar os poderes da República.
Deu-se então um embate:
— Você não acredita numa única palavra do que acabou de dizer. Não existe assembleia constituinte convocada pelo presidente da República. E o mais grave: você e eu sabemos bem, e a sociedade brasileira precisa saber, que as constituições nasceram para frear a prepotência dos poderosos. Eu quero seguir a democracia porque é meu compromisso de vida, como eu sei que é o seu. Essas palavras foram postas na sua boca. Porque infelizmente é uma vingança que você está encarregado de fazer. O general Mourão propôs a mesma coisa.
— Não tem nada a ver. Nossa proposta não prevê conselho de notáveis — disse Haddad.
O pedetista voltou a se apresentar como uma opção para romper a polarização entre Bolsonaro e o PT:
— A política brasileira está chafurdando no ódio, e isso atingiu seu apogeu agora. Peço que o povo reflita sobre isso, para que a gente possa unir o Brasil.
O mesmo fez Geraldo Alckmin (PSDB), que a todo momento fazia referências ao PT e ao candidato do PSL :
— Nem o radicalismo do PT, nem o do Bolsonaro. Eles não.
VOSTOK 2018
Em um dos momentos de descontração no terceiro bloco, Cabo Daciolo arrancou aplausos da plateia ao se empolgar numa pergunta a Ciro Gomes e deixar para os últimos segundos o tema que gostaria de abordar - o volume de recursos no fundo eleitoral. Na tréplica, Daciolo foi além: disse que o Brasil precisa de "patriotismo" e "civismo" e pediu que os telespectadores pesquisassem sobre o "evento Vostok 2018". Tratam-se de manobras militares realizadas pela Rússia em seu extremo oriente, no meio de setembro, com participação de militares da China e da Mongólia. O treinamento, que envolveu quase 300 mil militares, foi o maior das últimas três décadas no país.
- Tem um perigo iminente. Pode chamar o Daciolo de louco, mas vai aí no Google e pesquisa o evento 'Vostok 2018'. Rússia e China fazendo articulação de guerra contra os EUA, uma guerra comercial, porque o PIB mundial chegou a um teto, não cresce mais. Nós vamos defender a nação brasileira.

27 setembro 2018

OAB-RJ: “Algemar uma advogada é imperdoável”

O presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, define a investigação da comissão do Tribunal de Justiça do Rio sobre a juíza leiga Ethel Tavares de Vasconcelos, que mandou algemar a advogada Valéria Lúcia dos Santos numa audiência em Duque de Caxias, no RJ, como “uma farsa”. Ethel foi inocentada da acusação de abuso
 “Querem fazer desse caso uma queda de braço. A investigação visou proteger a visão de que o Judiciário pode tudo. Algemar uma advogada é imperdoável”, diz ele.
Santa Cruz afirma também que a comissão da OAB-RJ ainda ouvirá a juíza leiga, que é advogada, sobre o caso. Mas a “tendência” do órgão, diante da cena, que foi gravada, seria a de suspender e até, no fim do processo, excluí-la da advocacia.
 “Existe um sentimento de repulsa na classe em relação a uma advogada que manda algemar uma colega. Na advocacia, ela dificilmente terá lugar”, afirma ele.
 O TJ-RJ não quis comentar. A juíza leiga não foi encontrada. (Mônica Bergamo – Folha de S.Paulo)

Partir pra cima de Bolsonaro

Meirelles se soma à estratégia tucana e ataca polarização entre PT e Bolsonaro na TV
Daniela Lima – Painel – Folha de D.Paulo
Dois contra um - Dono do terceiro maior tempo de propaganda, Henrique Meirelles (MDB) vai se somar ao esforço dos tucanos e atacar a polarização entre PSL e PT na eleição. Em nova peça, o emedebista cita Jair Bolsonaro nominalmente pela primeira vez. “Bolsonaro é fruto da indignação que muitos brasileiros sentem. Verdade. Vamos falar da consequência”, provoca, e diz que o líder das pesquisas já “disse que não entende nada de economia” e que “o país, que está dividido, vai se dividir ainda mais”.
O nome de Fernando Haddad, o candidato do PT, não é citado, mas o partido, sim. Meirelles lembra que atuou no governo Lula e atribui a isso a bonança na economia. Depois, diz: “O PT nunca fez uma autocrítica pelo fracasso do governo Dilma e pela corrupção”.
A campanha de Meirelles foi subindo o tom de sua propaganda no horário eleitoral paulatinamente. A decisão de fazer crítica frontal na nova peça, que estreia nesta quinta (27), marca o movimento mais ousado até agora e em meio a tentativas de unir candidaturas de centro.

Temer busca carona com próximo presidente...

...para lustrar biografia
Emedebista tenta usar transição para preencher embalagem vazia do ajuste fiscal
Bruno Boghossian – Folha de S.Paulo
Sem gasolina há meses, Michel Temer quer pegar uma carona com o próximo presidente. O passageiro já ousa dar orientações para o sucessor e chega a sentenciar que “dificilmente” o novo governo conseguirá seguir uma rota diferente da atual. “Quem poderá fazê-lo?”, perguntou, na semana passada.
Temer fala como se a escolha do próximo presidente e sua participação na transição pudessem ajudá-lo a recuperar algum poder. Foi sua impopularidade, no entanto, que contaminou as pautas elaboradas durante seu mandato —e não o contrário.
Em viagem a Nova York, Temer decidiu “anunciar” (e não “sugerir”) que faria uma reforma da Previdência logo depois da eleição. “Procurarei o presidente eleito, seja ele quem for, e tenho certeza de que ele atentará para o fato de que a medida é indispensável”, afirmou.
A intenção pode ser nobre, dada a situação precária das contas do país, mas Temer deixa de levar em consideração que o grupo eleito em outubro terá muito mais força do que ele para apresentar uma agenda ao Congresso, mesmo antes de subir a rampa do Planalto.
O governo atual deixa um legado de projetos não aprovados que podem ou não ser aproveitados pelo próximo presidente. Basta lembrar que o PT rechaça a ideia de Temer de mudança nas aposentadorias. O time de Jair Bolsonaro até concorda com o projeto, mas certamente tentará impor sua marca ao texto. 
Temer até conseguiu reverter a recessão aberta pela gestão Dilma Rousseff e começou a reequilibrar os cofres públicos. O país, no entanto, está longe de retomar o crescimento e o emprego.
Na prática, o presidente quer diluir as fronteiras de seu mandato para insinuar que criou uma “doutrina” capaz de dar resultados nos próximos anos e lustrar sua biografia.
Depois de sofrer uma pane seca que paralisou a votação de assuntos importantes, Temer tenta deixar como legado a embalagem do ajuste fiscal, esperando que seu sucessor preencha o espaço vazio.

Diga-me com quem andas

“Essa repórter é filha do cão. Petralha imunda. Nordeste, sai do Brasil!”.
Ataque à imprensa alcançou escala e organização inéditas com eleitores de Bolsonaro
Daniela Lima – Folha de S.Paulo
No já célebre “Como as Democracias Morrem”, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt mostram como a intimidação à mídia está conectada à falência do Estado de Direito. O ataque sistemático à imprensa, que passa a ser apresentada como inimiga de políticos e regimes, está fartamente descrito no livro como parte do processo de fragilização das democracias pelo mundo.
O fenômeno não é, portanto, criação do Brasil. Nem novo é por aqui. Ganhou, porém, escala e organização inéditas na disputa eleitoral deste ano, protagonizado —sem exclusividade, é verdade, mas com destaque— por apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL).
Qualquer reportagem que incomode o candidato ou seus simpatizantes é descrita como fake. O Judiciário, o Congresso, os partidos e os adversários são alvos de tratamento semelhante. Até a Polícia Federal, exaltada por muitos dos que são “contra tudo o que está aí”, recebeu pedradas. Nenhuma instituição parece merecer voto de confiança.
Mas aqui vou me ater a ofensas contra jornalistas. Ah, não vai falar sobre a esquerda? Vou. Em 2013, fui cobrir pela Folha o ato de dez anos do PT no governo. Houve tumulto na entrada. Fui checar. Militantes viram meu crachá. Tomei um chute pelas costas e fui chamada de coisas como “cadela do PIG” —termo usado por detratores quando a imprensa era chamada de golpista, e não de esquerdista como agora.
A direção do PT emitiu nota lamentando o ataque e afirmando respeito —não expresso no discurso de seus líderes— aos profissionais de comunicação.
Em 2014, fiz reportagem que desagradou eleitores do PSDB. Um blogueiro do partido, já morto, escreveu: “Repórter que levou pontapés da esquerda ataca a direita liberal”. Novamente, pedidos de desculpas de líderes da sigla. 
O episódio mais recente de manifestação de ódio veio neste ano e em grande escala, após o programa Roda Viva com Bolsonaro. Peço desculpas aos leitores que defendem a moral, os bons costumes e os valores da família, mas o que reproduzo abaixo foi expresso por quem diz pregar ideias parecidas. 
“Vagabunda”, “filha da puta”, “piranha”, “mentirosa”, “bandida”, “jumenta”, “você é do tipo que merece receber menos do que os homens”, “você merece morrer”. Foi em julho. Não parou mais.
Neste mês, gravei um programa na internet sobre pesquisas. “Essa repórter é filha do cão. Petralha imunda. Nordeste, sai do Brasil!”. Outro: “Essa boca só serve para mamar mesmo”.
Na terça (25), os repórteres Rubens Valente e Marina Dias, da Folha, revelaram documento do Itamaraty que registra que, em 2011, uma ex-mulher de Bolsonaro disse ao órgão que havia fugido do país sob ameaça de morte. Hoje ela nega —a negativa já constava da reportagem antes de ela produzir vídeo contra o que chama de “mídia suja”.
Os dois repórteres foram alvo de um levante. Parte dos bolsonaristas errou a mira e atacou uma homônima de Marina. Um amigo foi às redes dizer que haviam pego a pessoa errada para Cristo. Em vão. “Olhem a cara dessa vagabunda. Putas de rua têm mais decência do que essa cadela.”
Jornalistas da TV Globo, de O Globo, do Estadão, de blogs, sites de checagem... Todos estão com as redes cheias dessas mensagens. O motim é contra a imprensa livre, crítica e profissional. Reportagem com documento oficial, três fontes e outro lado não presta. Vídeo de youtuber com teoria da conspiração sem qualquer prova? Esse vale.
Bolsonaro não representa ameaça à democracia, dizem seus apoiadores. Bolsonaro não é misógino, insistem. Ele e seus aliados, então, deveriam desencorajar oficialmente esse tipo de conduta —o que não foi feito até a conclusão desse texto. Afinal, o que dizer desses eleitores?

Eleitorado feminino foi estrela do debate SBT-Folha

Helena Chagas – Blog Os Divergentes
Apesar de momentos de confronto, o debate SBT-Folha-Uol teve um jeito de passeio no parque, uma certa leveza que não se registrou em outros. Ciro Gomes brincou com o gesticular de Henrique Meirelles com as mãos, imitando-o. Marina estava alegrinha, vestida de rosa. Guilherme Boulos chegou a declarar ao Cabo Daciolo, ausente no último debate, que estavam com saudades dele.
Mas o personagem principal do debate foi a eleitora brasileira, aquela que não está votamdo e, Jair Bolsonaro e se mostra inda indecisa em relação à sua escolha. Marina foi a primeira a dirigir-se às mulheres, e falou para elas em todas as suas respostas. Na intervenção final, disse que, numa família, quando há algum problema ou desentendimento, “ninguém chama o Meirelles não; chamam a mãe, a tia, para resolver…”.
Seus adversários também não se descuidaram do eleitorado feminino, e Boulos aproveitou a ocasião para chamar as mulheres para a manifestação anti-bolsonaro deste sábado.
Como sempre, porém, Cabo Daciolo roubou a cena ao perguntar e ser perguntado. Fez uma declaração de amor à própria mãe, prometendo, se eleito, dar valor a todas as mulheres e atribuindo a grande crise nacional ao fato de a mulher não ocupar no país o espaço que merece. No bloco anterior, o cabo deixara perplexa a platéia ao defender “a reciclagem do ser humano”.
Brincadeiras à parte, os piores confrontos foram mesmo pelos que lutam pela vaga para derrotar Bolsonaro no segundo turno – hoje, pelas pesquisas, nas mãos de Fernando Haddad, que teve um embate duro com Ciro Gomes. O candidato do PDT, respondendo a uma pergunta dos jornalistas, disse que não governará com o PT. Haddad, ao falar logo depois, disse ficar surpreso, revelando que, há poucos meses, fora convidado por Ciro para ser vice em sua chapa: “Não é assim que se faz política”.