Josias de Souza
Jair Bolsonaro tem do seu lado um artigo insuperável como prevenção aos desastres em debates presidenciais: seus médicos. Ao proibir o capitão de comparecer ao debate da TV Globo, nesta quinta-feira, a equipe do hospital Albert Einstein prestou dois inestimáveis favores ao paciente. A pretexto de zelar pela integridade física, os doutores protegeram a saúde política do candidato.
A ordem médica impôs aos rivais de Bolsonaro uma concorrência desleal. A liderança em todas as pesquisas transformará o ausente em protagonista do programa. Arrisca-se a ficar mal com a audiência quem atacar um adversário que se recupera de duas cirurgias graves. Poupado do contraditório, Bolsonaro evita uma nova exposição dos seus pés de barro.
A ausência produzirá um outro efeito colateral: o vice-líder petista Fernando Haddad será automaticamente convertido em alvo preferencial de candidatos que ainda sonham com uma improvável virada —Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, por exemplo. Haddad tende a apanhar em dobro.
Aliados de Bolsonaro se empenharam em espalhar a versão segundo a qual o candidato estava sinceramente interessado em comparecer ao último debate presidencial do primeiro turno. Conversa mole. Hoje, a melhor estratégia para Bolsonaro num debate é a fuga. A retirada se torna perfeita quando aquele que escapa dispõe de um álibi médico.
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