Por Celso Rocha de Barros – Folha de São Paulo
Não há um só país desenvolvido no mundo que corresponda à visão que Jair Bolsonaro defende para o Brasil. Os países mais desenvolvidos são justamente os que mais respeitam os direitos humanos, os que mais toleram a diversidade, aqueles em que a polícia e o Exército são mais claramente subordinados ao Executivo democraticamente eleito. Bolsonaro é o Brasil que desiste, que abandona a pretensão de pertencer ao Ocidente iluminista e prefere se divertir com as coisas que divertiam nossos antepassados, como execuções públicas e linchamentos.
Bolsonaro gosta de se comparar a Trump. Imagino que, se você acha que o jornalismo é fake news, deve ser meio mal informado. O início do governo Trump foi um fracasso espetacular. Dodô Mãozinha tem o menor índice de popularidade que um presidente americano já teve nesse ponto de seu mandato.
O México não vai pagar por muro nenhum. O sistema legal americano, uma das instituições fundadoras da era moderna, barrou as iniciativas presidenciais mais evidentemente inconstitucionais. Já está claríssimo que as promessas sobre o sistema de saúde eram mentiras. Trump pode ser processado por ter conspirado com a Rússia para derrotar Hillary, e já pensa em dar a si mesmo um perdão presidencial (que inveja, hein, Michel?).
Mas as comparações mais pertinentes com o que Bolsonaro defende não vêm de nenhum país desenvolvido. Bolsonaro quer trazer o Exército de volta para a política. Nesse momento, há dois países fazendo isso: a Venezuela, onde Maduro só se sustenta porque entregou o Estado para os oficiais, e a Coreia do Norte, governada pela doutrina oficial Songun, a primazia das forças armadas. Pessoal de PT e PCdoB, da próxima vez, levem o abaixo-assinado que o Jair assina.
O autoritarismo, afinal, não tem ideologia. Se um regime comunista oferecesse a Bolsonaro a possibilidade de torturar adversários desarmados, ele e Brilhante Ustra enviariam seus currículos para a KGB na mesma hora. Tem gente que não quer suborno porque é honesta, e tem gente que prefere sua parte em sadismo sem risco.
O ideal de polícia de Jair Bolsonaro é um esquadrão da morte sem qualquer limite legal. Algo nessa linha está em implantação nas Filipinas. Se o Brasil desistir de ser Estados Unidos e topar ser Filipinas, Bolsonaro tem chances de vitória.
Mas o mais importante sobre Bolsonaro é que ele é a resposta para a questão: "De onde saíram esses corruptos todos da política brasileira?". Esses malandros são os descendentes morais da classe política herdada da ditadura militar.
Ao longo da história do regime, os juristas e adeptos sinceros do regime foram descartados e substituídos por picaretas e puxa-sacos que apoiariam qualquer coisa que Costa e Silva ou Médici fizessem. Essa turma fez fácil a transição para se vender para o PT.
Com a crise do PSDB, a última tentativa da direita brasileira de ser um partido democrático moderno, a turma de sempre pode voltar para Bolsonaro e encontrar de novo um coturno para lamber.
Enfim, se você quiser votar em Bolsonaro, vá em frente, não sou sua mãe. Mas fique avisado de que está desistindo de viver em um país moderno.
E a propósito: não ache que o bolsonarismo é coisa de homem. Homem é um tipo de adulto.