Polêmico, contestado e elogiado, José Sarney apresenta incontestável bagagem com 60 anos de exercício na política. Tornou-se professor emérito na matéria, ocupando todos os postos abertos à prática.
Pois bem, e com todo o respeito: o professor tirou férias. Encontra-se fora da escola, em lugar incerto e não sabido, mesmo imaginando-se ser no Maranhão. Sumiu.
Outra explicação não há para a obtusa entrevista concedida esta semana por sua filha, a governadora Roseana Sarney, na presença do ministro da Justiça, para falar sobre as barbaridades ocorridas nos presídios de seu estado.
Como aceitar que o barbarismo tenha tomado conta de São Luís porque o Maranhão ficou mais rico e sua população aumentou? Então a riqueza, lá, não gerou mais empregos, senão fez aumentar o crime. Como solução para maior número de habitantes, por sinal desempregados, cortam-se cabeças? Incendeiam-se ônibus? Assaltam-se cidadãos que pagam impostos, na rua e dentro de casa?
A governadora também vestiu o boné de dedo-duro, ao acentuar que a situação nos presídios e nas ruas das cidades de São Paulo, Rio, Santa Catarina, Rio Grande de Sul e Alagoas é igual ou pior. Não consta que se cortem cabeças ou se dissequem cadáveres, com direito a registro televisivo, nos estabelecimentos penais desses estados. Estão os respectivos governadores na obrigação de reagir. De não aceitar a acusação.
Mas teve mais, na lamentável entrevista de Roseana. Disse que o presídio feminino da capital maranhense é um exemplo para todo o Brasil. Corre o risco de ser desmentida caso alguma cabeça de mulher-presidiária venha a rolar.
Acrescentou estar chocada com a violência na prisão de Pedrinhas, rotulando de inexplicável o que aconteceu lá. Errou de novo, porque explicação há. Faz pelo menos dois anos que a violência campeia, na prisão, de lá chefiada, e fora dela.
Não foi de graça que enquanto a governadora falava à imprensa, sob o olhar atônito do ministro José Eduardo Cardoso, o Procurador-Geral da República anunciava que pedirá a intervenção federal no Maranhão, enquanto o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana solidarizava-se com Rodrigo Janot.
Vale repetir, Roseana Sarney esqueceu todas as lições recebidas do pai com relação à postura que as autoridades públicas devem manter diante de graves crises. Explicações como as dadas por ela para o caos reinante a partir das Pedrinhas merecem nota zero. Tomara que o professor retorne logo ao palácio dos Leões.