PREFEITURA DE TRINDADE

SARGENTO EDYMAR

02 dezembro 2021

"CARAMBA" Quem Moro pensa que é?

 


Por Antonio Magalhães*

Afinal quem é Sérgio Moro? O juiz federal que presidiu a maior operação anticorrupção do País, a Lava Jato? Ou o aprendiz de político exercitando um discurso de banalidades para chegar à Presidência da República? Na verdade, ninguém sabe quem é um ou quem é o outro. Os dois Moros se perderam na trama da história e da vida.

A partir do ano zero de sua visibilidade nacional, deixando para trás um passado confuso na magistratura do Paraná, o então juiz deu partida com um grupo de procuradores federais a mais importante operação de combate a roubalheira no Brasil comandada pelo PT, envolvendo o chefão Lula, os tesoureiros do partido, militantes, José Dirceu, diretores de estatais e empreiteiros. Revelando, com o apoio da imprensa, a corrupção sistêmica nacional, Daí Moro se tornou um herói nacional.

De boneco gigante de passeata, saudado pelos manifestantes, a aura heróica do juiz começou a se desfazer a partir da sua ida para o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, supostamente como uma compensação para a prisão de Lula e sua saída da campanha de 2018, como acusam seus adversários. Mas o “jogo” político foi demais para ele, acostumado na mentalidade de juiz onde tudo que sentencia tem que ser cumprido.

Perdeu-se no caminho de ida. Sem fôlego, atacou quem lhe deu a mão e que poderia ter lhe ajudado. A soberba foi grande. Sabedoria demais engole o dono, diz a máxima popular. E começou a despencar sua popularidade e seu capital jurídico acumulado na magistratura.

Em fevereiro de 2021 não teve Carnaval. Mas o STF, há muito de olho em Sérgio Moro – que condenou em 1ª Instância o patrono da maioria deles -, fez a festa com o juiz. Os supremos da Corte declararam a parcialidade de Moro no julgamento de Lula em 1ª Instância, invalidando a condenação inicial e retirando ele da lista dos fichas sujas da política nacional com possibilidade de concorrer ao pleito de 2022.

Imediatamente surgiu Sérgio Moro como uma grande vítima do STF, um tribunal a esta altura profundamente desgastado em todo o país por suas decisões contraditórias no âmbito judicial. Se os ministros queriam beneficiar Lula – isto em hipótese – terminaram por levantar também a bola do juiz da Lava Jato.

Aqui entram elementos clássicos da política brasileira, o “coitadismo” e o “vitimismo”. Lula foi eleito em 2003 para dar oportunidade ao “coitadinho” do operário chegar ao poder e mudar o país para melhor, tornar todos mais generosos e melhorar a vida econômica da Nação, com a ajuda hipócrita de FHC que traiu seu candidato José Serra para se sair bem na foto. Pelos fatos acontecidos, Lula só melhorou financeiramente a vida dele.

Neste cenário beneficiou-se a “vítima” Sérgio Moro, o “dom quixote” do combate à corrupção, que prendeu poderosos ladrões do dinheiro público, inclusive um ex-presidente, coisa jamais imaginada pela população acostumada com a impunidade dos crimes da elite.

Mas isso agora também faz parte do passado. O país agora pensa menos em corrupção governamental estancada na atual administração federal. A linha de campanha de Moro até agora foi baseada nas teses bolsonaristas de 2018, pregando reformas econômicas, liberalismo e segurança pública. Medidas etéreas e óbvias que dependem substancialmente de um Congresso amigo, o que Moro não tem: é odiado por parlamentares da direita e da esquerda. Levando como brinde a má querência do STF.

Neste arranque de candidatura – que ele diz que vai levar até a eleição – Moro só é bem visto pela mídia tradicional e parte das digitais, que detestam Lula, odeiam Bolsonaro e se até agora elogiavam o ex-presidente era apenas para contrapor ao atual. Com o ex-juiz e seus acordos, os donos da mídia podem voltar a sonhar com ganhos do dinheiro público.

Pesquisas qualitativas, anuncia a CNN Brasil, apontam que é possível atrair o eleitor lulista que é anti-Bolsonaro e o bolsonarista que é anti-Lula. Isso ajuda a entender também por que a campanha não pretende que Bolsonaro seja o alvo preferencial, e sim Lula. Pode ser ou não?

Mas a caminhada do ex-juiz não está atapetada de flores. Tem mais espinhos. E ele sabe disso, mas sua arrogância e soberba de se achar o retrato da nova política brasileira não o vai impedir de se articular, de prometer o que não pode cumprir, coisas do gênero no universo político.

Mas deve sempre lembrar da frase de Tancredo Neves, presidente eleito que morreu antes de assumir o cargo: “ser presidente da República é destino”. O destino, pós-ditadura militar, levou à Presidência Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Três deles, como vices, sequer foram votados. É isso.

*Jornalista

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