Carlos Chagas
Arrisca-se a presidente Dilma a novo escorregão: anuncia que só cuidará da reforma do ministério, mesmo pontual, depois de o Congresso aprovar o ajuste fiscal. O problema é que da forma como as medidas provisórias foram encaminhadas, elas não passam. Nem o PT concorda com a redução do salário-desemprego e as limitações para as viúvas receberem pensões. As centrais sindicais, inclusive a CUT, são contra. O empresariado, com vasta influência sobre deputados e senadores, já atua para impedir o fim da desoneração das folhas de pagamento. O aumento de impostos será barrado por inconstitucional, se insistirem na sua aplicação para o ano em curso. E assim por diante.
Está o Congresso preparado para transformar o tigre num gatinho. O próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sabe disso, tanto que desmentiu a hipótese de pedir demissão caso suas propostas venham a ser rejeitadas. Continua trabalhando, até visita o presidente da Câmara toda semana, mas suas esperanças diminuem.
Além da reação específica a cada uma das maldades desejadas pela equipe econômica, registra-se a união dos trabalhadores com a classe média contra o modelo adotado por Dilma, de seguir a receita aviada na Europa pelos países ricos para debelar a crise nos países pobres. Afinal, cortes nos investimentos sociais, demissões crescentes, endividamento e elevação de impostos penalizam os mesmos de sempre.
A presidente Dilma ainda teria condições de obter a aprovação de uma parte das medidas do ajuste caso contrabalançasse os sacrifícios exigidos dos assalariados, dividindo-os com as elites. O imposto sobre grandes fortunas e sobre as heranças, por exemplo. E a limitação do lucro dos bancos e das remessas de lucro das multinacionais para o exterior, assim como a taxação de terras improdutivas. Como dessas iniciativas não se ouve falar no palácio do Planalto, a conclusão surge óbvia: o governo será derrotado em suas pretensões.
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