O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar nesta quarta-feira (4) os juros básicos da economia de 12,25% para 12,75% ao ano, uma alta de 0,50 ponto percentual. Foi o quarto aumento consecutivo da taxa Selic, que atingiu o maior patamar desde o início de 2009, quando estava em 13,75% ao ano, ou seja, em seis anos.
A decisão confirmou a expectativa da maior parte dos economistas do mercado financeiro. Com uma taxa mais alta de juros, o Banco Central tenta controlar o crédito e o consumo, atuando assim para segurar a inflação. Por outro lado, ao tornar o crédito e o investimento mais caros, os juros elevados prejudicam o crescimento da economia.
Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte frase: "avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 p.p., para 12,75% a.a., sem viés".
Cenário econômico
O novo aumento dos juros básicos da economia acontece em um momento complicado, com a economia ainda se ressentindo de um baixo nível de atividade, mas com a inflação fortemente pressionada pelo aumento de tarifas públicas, como energia elétrica e gasolina, e também pela disparada do dólar – que nesta quarta fechou em R$ 2,98, o maior patamar desde 1998.
De acordo com o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian, o cenário atual é um dos mais desafiadores para a política econômica, pois combina ausência de crescimento com inflação em alta, que os economistas chamam de “estagflação”.
A alta do dólar pressiona os preços, pois os produtos e insumos importados ficam mais caros. Além disso, a inflação também sofre os efeitos dos reajustes dos chamados "preços administrados" (como telefonia, água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros). Para a energia elétrica, o rejuste pode superar 40% neste ano.
“A depreciação do real acelerou-se desde a última reunião [do Copom em janeiro]. Além disso, o Banco Central pode reduzir sua intervenção no mercado de câmbio acelerando este processo. Outra razão para o aumento da Selic é que o BC deve combater os efeitos secundários dos choques de preços de hortifrutigranjeiros, bem como do aumento de combustíveis e energia elétrica”, avaliou o professor da Escola de
Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), Clemens Nunes.
Do lado da atividade econômica, analistas não descartam a possibilidade de o país entrar de novo em recessão, a exemplo do registrado no ano passado. A chamada recessão técnica se caracteriza por dois trimestres seguidos de contração do Produto Interno Bruto (PIB).
A expectativa da maior parte do mercado financeiro, realizada na semana passada pelo BC com mais de 100 analistas de bancos, é de que a economia brasileira tenha registrado crescimento zero em 2014 e de que tenha retração de 0,58% em 2015 – o que seria a maior queda em 25 anos.
Metas de inflação
Pelo sistema de metas de inflação vigente na economia brasileira, o BC tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. Para 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência, pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Nos últimos cinco anos, porém, a inflação ficou bem distante da meta central de 4,5%, e mais próxima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro. Em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, respectivamente, a inflação somou 5,91%, 6,50%, 5,84%, 5,91% e 6,41%.
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, informou, no fim do ano passado, que a inflação deve retomar a trajetória de convergência para a meta central "ao longo de 2015". Segundo ele, o "horizonte de convergência" com o qual o BC trabalha "se estende até o final de 2016".
O objetivo do BC, portanto, é entregar a inflação na meta central de 4,5% somente no ano que vem. Antes de retomar a trajetória de convergência para a meta durante 2015, a inflação acumulada em 12 meses tende a "permanecer elevada", informou ele em dezembro.
O mercado financeiro, porém, segue incrédulo. De acordo com estimativas coletadas pelo próprio Banco Central na semana passada, com mais de 100 instituições financeiras, a inflação deve somar 7,47% neste ano (bem acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro), 5,5% em 2016, 5,2% em 2017 e 5% em 2018 – não atingindo, portanto, a meta central de 4,5% até o fim do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Ajuste nas contas públicas
Os analistas avaliam que, embora as medidas econômicas anunciadas recentemente pelo governo sejam importantes para reequilibrar as contas públicas (após déficit inédito em 2014) e possibilitar um cenário de controle da inflação no futuro, com taxas de juros mais baixas, elas terão impacto de reduzir ainda mais o nível de atividade neste ano.
Entre as medidas anunciadas, estão aumento dos tributos sobre a gasolina e o diesel, sobre operações de crédito, cosméticos, automóveis e sobre a folha de pagamentos, além de limitação de benefícios sociais, como seguro-desemprego e abono salarial, e redução de gastos de custeio e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com a Conta de Desenvolvimento Energético – o que resultará em um alta maior da energia elétrica.
O economista da NGO Corretora, Sidnei Moura Nehme, avaliou que o quadro econômico é "extremamente complexo". Em sua visão, não é possível concluir, até o momento, que as medidas possam "efetivamente ser contributivas à recuperação do país, já que os efeitos colaterais podem causar mais inflação, desemprego, perda de renda e consumo, conduzindo o país à recessão".