Jornais do mundo todo espelham a dúvida de mais de um bilhão de católicos: o que muda na Igreja com o afastamento de Joseph Ratzinger? A Igreja é um pilar de firmeza e fé há mais de 2 mil anos e tem suportado muitas crises e atravessado muitas guerras. O período atual é de muita turbulência e isso se reflete no comportamento dos cardeais, dos chefes da Igreja e, sobretudo, do Papa.
Foi um susto e foi um choque, mas o Vaticano defende a decisão de Bento XVI. Agora começa uma nova etapa na cúpula da Igreja Católica, uma fase de discussões internas e uma sutil disputa pelo poder.
Na Itália, os católicos ainda estão chocados com a renúncia do Papa. Muitos ficaram contemplando a janela do apartamento de Bento XVI com vistas para a Praça São Pedro na esperança de que ele pudesse aparecer. Um pequeno grupo se reuniu para cantar em homenagem ao Papa. As pessoas levaram faixas com frases de apoio à decisão do Pontífice.
Nos restaurantes, os clientes não desgrudam do noticiário. Um comerciante afirma todos os domingos vai ao Vaticano só para ouvir Bento XVI e ser abençoado por ele. Um aposentado diz que reza para que o Papa não esteja doente.
Na segunda (11), Bento XVI surpreendeu os católicos do mundo inteiro. Anunciou a decisão em latim, em uma reunião do conselho de cardeais. “Queridos irmãos, convoquei vocês para comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter repetidamente reexaminado minha consciência perante Deus, cheguei à certeza de que minhas forças, devido a minha idade avançada, não são mais adequadas para o exercício do ministério de Pedro”, anunciou.
O Papa disse também que, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças, é necessário vigor do corpo e do espírito, e que nos últimos meses ele sentiu que suas forças se deterioravam ao ponto de ter que reconhecer a incapacidade de cumprir o trabalho que lhe foi confiado. Bento XVI falou que por essa razão e ciente da gravidade da renúncia, ele deixava o cargo. Disse ainda que, a partir do dia 28 de fevereiro, às 20h pelo horário de Roma, seu lugar estará vago.
Seu irmão, Georg Ratzinger, contou aos jornais alemães que o irmão quer repouso nos seus últimos anos, e que o seu médico já o havia aconselhado a não viajar para fora da Europa.
O Vaticano fez questão de apresentar a notícia com um ar de normalidade. Seu porta-voz, Federico Lombardi, disse que os papas têm o direito e até o dever de renunciar nesses casos. Para Lombardi, foi uma decisão “de grande coragem”.
Para os historiadores, o número de Papas que renunciaram é polêmico. Entre os casos mais notáveis, Bento IX deixou o cargo em 1045 e Celestino V, em 1294, cinco meses depois de eleito. O último foi Gregório XII, em 1415.
Até 28 de fevereiro, o Papa Ratzinger segue no comando da Igreja Católica. Em 1º de março, todas as autoridades da cúpula da igreja serão destituídas. Começa então o período da Sé Vacante, entre a morte ou renuncia de um Papa e a escolha do sucessor. O conclave, a reunião que escolhe o Papa, deverá ser aberto ainda em março. Só os cardeais com menos de 80 anos poderão votar. Atualmente o colégio de eleitores tem 117 cardeais, entre eles cinco brasileiros.
Vai ser uma situação inédita na Era Moderna. Na prática, um ex-Papa nunca deixa de ser Papa. Portanto, o mundo moderno vai conviver com dois: um, sem poder, que se retira em clausura para meditar; e o outro que será eleito até a Páscoa, no dia 31 de março. Ele é quem vai comandar a Igreja Católica.
Foi um papado de contestações, rigor e desafios, em um instante crítico da historia das religiões. Bento XVI já dava sinais de que estava sem forças. Até o último dia de fevereiro, permanece no comando e nomeia novos cardeais. Depois, o cardeal Ratzinger se retira do trono de Pedro para viver na clausura.
O mundo passará, então, a conviver com dois papas — um deles o que será eleito depois da Páscoa. Vaticanistas afirmam que o cardeal Ratzinger deverá ter papel ativo na escolha do sucessor.