Celso Rocha de Barros – Folha de S.Paulo

Também expressei meu temor de que Lula planeje, se eleito, interferir nos rumos da Lava Jato.
No dia seguinte, a assessoria de Lula enviou à Folha uma réplica, em que procura responder meus dois argumentos.
No que se refere ao risco da eleição de Lula para a Lava Jato, a assessoria do ex-presidente lembra que os governos petistas promulgaram leis que tornaram a Lava Jato possível e tiveram uma atitude geral de respeito à autonomia dos órgãos fiscalizadores. As críticas de Lula à Lava Jato estariam limitadas à "desnecessária e irresponsável destruição de cadeias produtivas" e ao "desvio da operação para a busca de manchetes na imprensa".
Tenho certeza de que o custo econômico do desmonte de cartéis pela Lava Jato foi alto, e deve ser parte da explicação da profundidade da recessão recente. Esse é, a propósito, um bom argumento para não parar a operação no meio: já pagamos seu custo, vamos desistir antes de colher seus benefícios?
Também concordo que, sobretudo no processo em que Lula é réu, houve politização e exageros midiáticos: a condução coercitiva, o PowerPoint, tudo isso foi o pessoal da Lava Jato tentando jogar na arena política, onde eventualmente seriam surrados pelo PMDB.
Por outro lado, seria ridículo negar que, enquanto alguns petistas, atendendo a pressões da sociedade civil, procuravam aperfeiçoar os mecanismos de combate à corrupção, muitos outros petistas participavam ativamente do saque ao patrimônio público organizado pelo cartel das empreiteiras.
E, como notou recentemente o filósofo Ruy Fausto, a autocrítica do PT após o impeachment foi o contrário da que seria necessária: o certo seria valorizar o que houve de positivo no combate à corrupção e afastar os quadros envolvidos em falcatruas. Ao invés disso, os acusados continuam lá, e documentos do partido lamentam que os governos petistas não tenham impedido "a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal" (Resolução de Conjuntura de Maio de 2016, p. 4).
A Lava Jato cometeu erros, inclusive contra Lula, mas a discussão sobre a operação dentro da esquerda brasileira atual é muito ruim.
Quanto às reformas: a assessoria acerta ao lembrar que Lula realizou, "democraticamente' –o contraste com o quadro atual é pertinente– a reforma das aposentadorias dos servidores públicos em 2003. Mas a sugestão de que crescimento mais rápido taparia o deficit não sobrevive a nenhum cálculo sério. Se Lula vencer em 2018, terá que reformar a Previdência, e Lula certamente sabe disso.
Enfim, continuo vendo no discurso petista atual um sintoma de que o partido espera que Lula não poderá concorrer. A velocidade recorde com que vem tramitando o recurso do ex-presidente sugere que o cálculo petista está correto. Essa mesma celeridade, reconheço, enfraquece minha defesa da Lava Jato.
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