Andrei Meireles – Blog Os Divergentes

Nas reuniões anteriores com líderes mundiais, Temer parecia deslocado nas fotos, com pinta de intruso. Na China, beneficiado pelo status de visita de Estado, ele apareceu em destaque com o presidente, o primeiro-ministro, o presidente do parlamento…
Com essa exposição, ganhou musculatura para chegar como um igual na reunião dos Brics. O que fez seu entorno? Vazou que ele voltaria antes da foto final do encontro para se preparar para a nova denúncia de Rodrigo Janot. Pegou mal.
Aí, tentaram corrigir. A volta antecipada de Temer seria para acompanhar votações de interesse do governo, como a nova meta fiscal, no Congresso. Seria desconfiar de quem ficou aqui com essa tarefa. Também não soou bem.
Depois desse bate cabeça, Temer anunciou que ficará até o final da reunião dos Brics. Ainda bem. Afinal, foi para justificar todos esses compromissos que ele levou uma delegação tão grande, repleta de ministros e parlamentares, verdadeiro voo da alegria.
Na manhã da sexta-feira (1), o IBGE anunciou um inesperado PIB positivo no segundo trimestre de 2017. Modesto, é verdade. Mesmo assim foi comemorado como grande notícia. Temer até bateu um bumbo por lá.
Aqui quem puxou o coro foi Henrique Meirelles. Disse que daqui para frente tudo vai ser diferente. Previu até crescimento de 3% ano que vem.
Mas, o Palácio do Planalto de novo resolveu disparar tiros no próprio pé. Já havia escrito aqui sobre as trapalhadas em relação ao decreto para a revogação de uma reserva na Amazônia.
Na noite da mesma sexta-feira, puseram água no chopp da equipe econômica. O Planalto divulgou uma nota, em nome de Michel Temer, que parecia ter sido redigida por adversários. Por vários motivos:
Primeiro, por substituir nas manchetes uma notícia que lhe era favorável por outra ruim, falha primária em qualquer estratégia de comunicação;
Segundo, por rebater em nota oficial a delação ainda em sigilo do operador Lúcio Funaro. Por qualquer ângulo, surreal. Michel Temer reagiu a algo que soube de forma ilegal, refutou no escuro, ou se antecipou justamente por saber de antemão do que se trata;
Terceiro, a linguagem usada em nome de Michel Temer no bate-boca com Joesley Batista é, como diria José Sarney, um atentado à liturgia do cargo. Joesley gravou Temer em uma conversa altamente suspeita. O risco de acusar o interlocutor de ser o grampeador-geral da República é de receber de volta a pecha de ladrão-geral da República.
Como diz o ditado, quem diz o que quer, ouve o que não quer.
A baixaria parece desespero de quem, no topo das elites política e econômica, não consegue explicar tamanha promiscuidade.
Simples assim.
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