“Quando eu era menino, todos os domingos, meu pai me levava até Itamaracá. E na minha inocência de criança, eu achava que aquele era o céu. Hoje, homem feito, eu sonho de olhos abertos com a areia branca, o mar, o céu estrelado, o sol e o povo de Itamaracá”, Reginaldo Rossi.
O trecho acima, que foi extraído da canção “Itamaracá/Pedra que canta”, composta pelo Rei do Brega, é um belo exemplo de como o cantor se referia a um de seus lugares prediletos: A Ilha de Itamaracá. Itamaracá, que em Tupi-Guarani significa pedra que canta, parece realmente cantar após a morte do Rei. Só que dessa vez a alegria do Brega, que Reginaldo tantas vezes apresentou na Ilha, parece dar lugar a acordes de saudade.
O FolhaPE foi até a Ilha, distante 40 Km do Recife, para conversar com as pessoas e sentir o clima do lugar que o Rei chamava de “Ilha encantada”. “Ele vinha aqui pelo menos uma vez por mês. Fazia questão de ficar sentado bem pertinho do mar e sempre pedia peixe frito, pirão, arroz e batata-frita”. O relato é de Simone Maria Santana, 47 anos e dona do Bar da Caldeirada, que fica em frente ao Forte Orange e era o reduto principal de Rossi em Itamaracá.
“Só quem atendia ele era eu. O cuidado que eu tinha com ele ninguém mais teria. A simplicidade dele era algo lindo. Muitas vezes, ele abria shows pagos pra todo mundo. Uma vez ele disse: ‘Deixa todo mundo entrar, eu vim aqui pra cantar pra Ilha’, foi lindo”, completou Simone Maria. Na areia da praia, O FolhaPE encontrou o casal Rodolfo Costa, 47anos, e Roseneide Duarte, de 56 anos. Eles sempre frequentam a Ilha e dessa vez disseram sentir um clima diferente.
“Tá muito calmo e triste. Geralmente a Ilha é mais animada. Agora, a música alegre dele tá tocando, mas nem ela quebra a tristeza”, disse Rodolfo. Sua esposa, Roseneide, contou que é Sul-Matogrosense e veio morar em Pernambuco há 10 anos, no entanto, a paixão por Rossi é bem mais antiga. “Uns cinco anos antes de vim pra Pernambuco, eu me apaixonei pela música ‘Recife, minha cidade’. Achei a canção muito bonita e fiquei curiosa para saber que lugar era aquele. Hoje, curiosamente, sou casada com um pernambucano”, (risos).
Assim como Reginaldo Rossi, outra pessoa não pode passar despercebida quando o assunto é Itamaracá. Ela, assim como o Rei do Brega, também é reconhecida como uma majestade, só que da Ciranda. Lia de Itamaracá, a “preta cirandeira mais famosa do mundo”, como gosta de se definir, abriu as portas de sua casa para o FolhaPE e se emocionou ao falar do amigo Reginaldo Rossi.
“Eu disse: ‘Meu Deus, o meu Rei?’ Fiquei sem querer acreditar na morte dele. Sempre fui a sua maior fã, ele me ajudou muito. Agora, que ele morreu, muitas pessoas estão valorizando Rossi em Itamaracá. Quando ele era vivo não era assim. Espero que comigo não aconteça o mesmo”, disse emocionada.
Lia contou ainda que, nas próximas apresentações que fará, não descarta uma homenagem ao Rei do Brega. “O meu Rei era quente, ninguém no mundo tinha o balanço dele. Quem sabe, nas apresentações que farei no Rio de Janeiro, nas próximas semanas, eu não trago um brega dele em ritmo de Ciranda. Ele não morreu para os fãs e amigos, para mim estará sempre preso no meu abraço”, contou.